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14/12/2016 11:20

Quando a vitória não resolve tudo

Escrito por Wagner Gonzalez
Jornalista especializado em automobilismo de competição

Foto: Mercedes

Paddy Lowe (E) e Toto Wolff tem visões diferentes sobre o futuro


Nada mais ilusório que a máxima “em time que está ganhando não se mexe”. Depois do surpreendente anúncio de divórcio entre Nico Rosberg e a Fórmula 1, a equipe Mercedes envolve-se em nova situação de risco: uma que envolve a permanência de Paddy Lowe na equipe. Atual diretor técnico executivo do Kampfpanzer que ostenta a estrela de três pontas, este britânico nascido em Nairobi, no Quênia, já não parece tão à vontade na equipe alemã. No entanto a causa disso, a propalada chegada de James Allison a esse time poderá resolver um outro problema igualmente importante, senão mais grave: a falta de um piloto para preencher a vaga aberta com a saída de Rosberg.

Em um universo onde tudo é possível – ou “everything is possible” no jargão do todo poderoso Bernie Ecclestone – o companheiro de equipe de Lewis Hamilton em 2017 poderia ser o finlandês Valteri Bottas, solução que tem tudo para se tornar um estudo de caso para quem pesquisa manobras de engenharia financeira. Solução do estilo quebra-cabeça e que, diga-se de passagem, poderia muito bem salvar a lavoura do Cerrado de Felipe Nasr, que hoje sofre com a falta de insumo básico.

Vejamos, pois, este quadro em partes, capítulos ou arias, já que tem todos os elementos de uma ópera digna como a história de Fosca, obra em quatro atos de outro brasileiro, o campineiro Antônio Carlos Gomes. No primeiro ato desta obra datada de 1873 e cuja estreia foi no Teatro Scala, em Milão, sequestradores liderados por Cambro, irmão da heroína, sequestram Paolo, noivo de Delia e amor secreto de Fosca e sua liberdade com vida é taxada em 100 moedas de ouro.

Ocorre que em meio à essa negociação, Fosca tenta convencer seu irmão Cambro a ficar com o dinheiro e deixar Paolo somente para seu usufruto pessoal. Uma pequena revolta acontece e os comandados por Cambro sequestram as donzelas de Veneza, gerando medo e confusão na cidade. Tosca se arrepende e tenta convencer Paolo e sua noiva, Delia, a cometerem suicídio, mas em uma reviravolta digna de mentes insanas, é ela quem acaba por se matar, o que permite que Veneza siga sua vida como se quase nada tivesse acontecido.

A vaga aberta pela aposentadoria precoce de Nico Rosberg pode custar à Mercedes algo como essas 100 moedas de ouro, com o valor devidamente atualizado em juros e correção monetária em relação à história acontecida no ano de 944. Aparentemente sem conseguir sequestrar pilotos de ponta – tais como Fernando Alonso, Sebastian Vettel ou Max Verstappen –, Toto Wolff viu-se obrigado a olhar para Valteri Bottas, primeiro piloto de uma equipe Williams que terá o canadense Lance Stroll, cujo currículo na F1 ainda está virgem.

Liberar um piloto que parte para sua quinta temporada na categoria seria, portanto, algo doloroso para a equipe Williams. Concordar em liberar Bottas seria herdar o problema que hoje aflige a Mercedes: procurar um piloto experiente em um mercado onde a demanda excede a procura. Tarefa árdua, mas nada que outro punhado de moedas de ouro, ou algo equivalente, não resolva. Quem sabe, até mesmo uma solução mista: um desconto substancial na fatura do aluguel de motores e a liberação de Paddy Lowe para assumir a direção técnica da equipe. Vale lembrar que ele foi um dos cérebros responsáveis pelo desenvolvimento da suspensão ativa dos Williams FW14 e FW 14 b.

Caso o patrocinador principal da equipe concorde com a liberação de Bottas, a Williams resolveria não apenas dois problemas, mas três: uma redução de muitos milhões de dólares na conta dos motores – fala-se em torno de US$ 12 milhões, proposta rejeitada inicialmente – reforçar a equipe e preparar o sucessor de Pat Symonds, que já anunciou sua aposentadoria para o final da próxima temporada. De quebra, ficaria bem com a Mercedes em uma temporada onde um piloto da casa de Sttutgart, Estebán Ocón, vai pilotar para a Force India, outra equipe que usa os motores alemães.

E caso o quebra cabeça se resolva dessa maneira, o nome de Felipe Nasr, até mesmo de Felipe Massa, voltam ao mercado. Ambos já trabalharam com Frank Williams e sua família, o que facilitaria o entendimento com a comunidade de Grove. Situação que ficaria mais difícil caso a Mercedes intercedesse para outro de seus pilotos, o alemão Pascal Wehrlein. O jovem campeão do DTM em 2015, porém, parece não ter impressionado o mercado como Toto Wolff esperava. Nesse caso, só mesmo dobrando a oferta de moedas de ouro para que essa ópera teuto-britânica não acabe em clima de tragédia grega.

FRAGA REJUVENESCE A STOCK CAR – Felipe Fraga acrescentou mais dois “primeiros” à sua já longa lista de conquistas: em uma atuação madura em que dois incidentes ajudaram a definir o resultado da etapa final da temporada de Stock Car, Fraga conquistou o seu primeiro título de Campeão Brasileiro da categoria e tornou-se o piloto mais jovem a conseguir tal resultado. Nascido na cidade de Jacundá (PA) em 3 de agosto de 1995, Fraga desde pequeno radicou-se no Estado de Tocantins, consequência das atividades comerciais de sua família.

Autor da pole-position em sua corrida de estreia (Interlagos, 2014), o campeão de 2016 é também o mais jovem vencedor da Corrida do Milhão de 2016 e um dos expoentes da nova geração de pilotos brasileiros. Estes dois resultados mostram que a opção por fazer carreira com carros de Turismo - consequência de ter um corpo avantajado -, foi a mais acertada, mesmo dividindo a equipe Cimed com o campeão de 2015, o paulista Marcos Gomes. No ano que vem Felipe cede lugar para seu mentor, Cacá Bueno, e assume a condição de primeiro piloto na estrutura que Bueno e William Lube montaram junto com Duda Pamplona, ainda defendendo as cores do seu patrocinador atual, a farmacêutica Cimed.

Além de Fraga vale destacar dois outros nomes que também deverão brilhar na próxima temporada: o já experiente Diego Nunes – que deve se transferir para a equipe Full Time -, e Guilherme Salas, um ano mais velho que Fraga. Salas brilhou na disputa do Brasileiro de Marcas e fez algumas aparições na Stock Car: estreou com um segundo lugar na corrida de duplas (Junto com Ricardo Maurício) e obteve o sexto lugar no encerramento da temporada.

Na prova de Interlagos Fraga liderou as primeiras voltas com folga, mas a entrada do Safety-Car anulou a vantagem. Mais tarde, uma parada para instalar pneus de chuva em seu carro o deslocou para trás, mas sempre mantendo posição que lhe garantia o título. Quem saiu ganhando com esses imprevistos foi Daniel Serra, que garantiu a última vitória da equipe Red Bull, que se despede da categoria. Rubens Barrichello chegou em segundo na prova e no campeonato.

MUDANÇAS NA VICAR – A corrida de Interlagos marcou também a despedida de Maurício Slaviero do comando da Vicar, empresa do grupo T4F voltada para a promoção de eventos de automobilismo. Seu lugar será ocupado por Rodrigo Mathias, até então responsável pela divisão de novos negócios do grupo gaúcho RBS.

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