Apesar de tudo, temos campeões
Há vida além da Fórmula 1 e Bruno Senna e Pietro Fittipaldi confirmaram isso ao conquistar dois títulos importantes nesta temporada, respectivamente nas categorias LMP2 e V8 World Series: graças aos dois, temos campeões de nível mundial em 2017. Não bastasse isso o gaúcho Matheus Leist foi confirmado como companheiro de Tony Kanaan na equipe de A.J. Foyt para disputar a temporada 2018 da IndyCar. Exceto uma reviravolta do mercado da categoria máxima, ficaremos sem um representante no Campeonato Mundial de Pilotos pois não há espaço nem candidato para substituir o “aposentando” Felipe Massa, que domingo encerra, de vez, carreira no nível mais alto. A Fórmula E na temporada 2018/2019 deverá ser seu destino após um período sabático.
Opção outrora embrulhada para presente em papel glamour e laços de competência, a F-1 perdeu muitos dos valores que a consagraram mundo afora e busca uma identidade que a reposicione como objeto de desejo e item de consumo para os mais jovens. Tal qual a revolução provocada pelo excesso de informação veiculada via internet, o automobilismo de competição também experimenta uma fase de grande oferta de categorias, o que faz surgir mercados voltados para clientes dos mais variados. E aqui voltamos a falar de Pietro e Bruno, os novos campeões.
Fittipaldi e Senna, dois sobrenomes com estirpe de campeões, não estão só nessa cruzada em busca de fazer o que gostam e com competência. Christian Fittipaldi continuou brilhando no cenário de Endurance norte-americano, Lucas Di Grassi garantiu o título da F-E (o segundo do Brasil em três temporadas), Victor Franzoni se impôs na série ProMazda e inúmeros outros nomes foram destaques em várias categorias. A maioria absoluta desses pilotos, porém, já não vê a F-1 como o olimpo sonhado por Emerson, Piquet e Senna, nomes que a consolidaram como categoria preferida pelos brasileiros.
Esses três campeões mundiais percorreram uma trilha semelhante - as categorias de base no Brasil ou na Europa -, mas hoje soterrada por um fenômeno que permitiu a um holandês disputar a F-1 com apenas 17 anos, caso de Max Verstappen. Ponto fora da curva, sua trajetória continuará sendo única por um bom tempo: a Federação Internacional do Automóvel (FIA) decidiu impor um sistema de formação que exige obter resultados mínimos em diversas categorias para conquistar a superlicença necessária para alinhar nos Grandes Prêmios.
Como o funil é tão estreito quanto cruel – as 20 vagas da F-1 acabam preenchidas por valores que vão da competência ao potencial de mercado que o aspirante representa, o destino de muitos jovens acaba seguindo caminhos diferentes dos sonhos de kartista. Assim, não surpreende que Leist optou pelo automobilismo norte-americano, Senna e Di Grassi abdicaram de fazer carreira no mundo dos GPs e Pipo Derani escolheu o mundo das provas de longa duração para consolidar sua carreira, para citar apenas alguns.
No Brasil vivemos situação semelhante e a renovação do quadro de pilotos é mais lenta do que seria ideal, culpa de uma conjuntura onde os caciques são muitos e os índios cada vez mais raros. O kart, base da pirâmide, permite que pré-adolescentes e adolescentes treinem com liberdade cerceada apenas pelo poder financeiro de cada um. Na medida em que crescem e buscam alternativas para desenvolver suas carreiras surgem empecilhos como a proibição de treinos livres, categorias de custo altamente restritivos e automóveis bastante defasados em relação ao que existe no exterior.
As tentativas que tentam romper essas barreiras começam a dar sinais de sucesso: o campeonato Brasileiro de Endurance – com apelo focado no Rio Grande do Sul – e a Fórmula Inter, categoria paulistana que oferece um pacote econômico atraente. Quando se vê que a frota brasileira de automóveis cresceu significativamente nos últimos anos e o número de pilotos filiados à Confederação Brasileira de Automobilismo diminuiu em cerca de 20% nota-se que há algo errado.
Um exemplo é o fantasma que remete ao cruel destino que a ganância de alguns cariocas fez destruir o autódromo de Jacarepaguá, o principal autódromo do Brasil, fantasma que ronda Interlagos, um circuito administrado de forma discutível. Seus responsáveis privilegiam um evento que gera uma semana de bons negócios para o turismo da cidade e ignoram que o GP do Brasil só existe porque surgiu do sucesso que o automobilismo de base proporcionou. Hoje os vereadores da cidade de São Paulo discutem em plenário o processo de privatização do Autódromo José Carlos Pace sem que uma única audiência pública tenha sido realizada para debater o assunto. Trata-se de demonstração inequívoca de desrespeito à população de uma cidade onde semáforos funcionam aleatoriamente, multas de trânsito são aplicadas com a ganância de caça-níqueis e o prefeito concentra seu tempo em alçar sua carreira política a níveis mais altos ao que costuma passar boa parte do seu tempo em inúmeras viagens pelo Brasil e pelo Exterior.
Se você está em São Paulo nesta terça-feira e tem interesse em defender o futuro de Interlagos compareça ao plenário da Câmara Municipal a partir das 14 horas. Sua presença é importante para o futuro do automobilismo brasileiro.
Pensou que me enganava – O neozelandês Brendon Hartley e o francês Pierre Gasly foram confirmados como a dupla de pilotos da Scuderia Toro Rosso para a temporada de 2018. Quem acompanhou os últimos movimentos da equipe não se surpreendeu nem um pouco com a notícia; com relação ao campeonato do ano que vem a expectativa real é o potencial do motor Honda, que tem melhorado substancialmente na segunda fase da temporada.
Toyota segue firme - Sem dúvida em busca da tão sonhada vitória nas 24 Horas de Le Mans, a Toyota anunciou no Bahrain a continuidade do seu programa na categoria Endurance para a super temporada 2018-2019. Após o encerramento da temporada 2017, o time Gazoo Racing testou vários pilotos, entre eles o espanhol Fernando Alonso, cujo nome é cada vez mais cogitado para defender a marca na edição de 2018 da clássica prova francesa. No treino reservado para novos pilotos, Alonso fez o segundo tempo, atrás de Pietro Fittipaldi (que conduziu um Porsche 919 Hybrid). Seus assessores, porém, anunciaram que o espanhol não fez nenhuma volta com acerto de classificação.
Foyt verde-amarelo – Ao anunciar o gaúcho Matheus Leist para ser companheiro de equipe de Tony Kanaan, o legendário A.J.Foyt já vê sua equipe ser citada no ambiente da categoria IndyCar como “Team Brazil”. Será interessante acompanhar os trabalhos do time: nos últimos anos Kanaan defendeu a equipe de Chip Ganassi, enquanto Leist desembarca na categoria após ter brilhado na categoria Indy Light; entre seus melhores resultados está a vitória na preliminar das 500 Milhas de Indianapolis.
Danica se aposenta em maio – A norte-americana Danica Patrick deverá encerrar sua carreira de piloto com uma última participação nas 500 Milhas de Indianapolis de 2018, prova marcada para o dia 27 de maio. Sem patrocinadores para continuar na Nascar, acredita-se que a estadunidense nascida em Beloit (estado de Wiscosin), vai focar suas atividades profissionais como comentarista de TV.