Atire a primeira pedra
Não foi exatamente uma surpresa, mas gerou muitos comentários: na tarde de ontem a Jaguar anunciou publicamente o final do I-Pace eTrophy, decisão que marca o primeiro cancelamento de um campeonato de automobilismo desde o início da atual pandemia de Corona vírus. No comunicado oficial distribuído no Brasil não consta uma razão específica para o fato, mas no Reino Unido foi explicado que uma revisão estratégica decorrente do impacto do Covid-19 é a causa principal da decisão de cancelar a terceira temporada de um torneio disputado com o SUV elétrico inglês e que servia como preliminar de algumas etapas do Campeonato Mundial de Fórmula E, a categoria de monopostos elétricos. Pelo lado positivo sobram o fato de a iniciativa ter contribuído para aumentar a autonomia dos carros de série e, para os brasileiros, que o primeiro título do campeonato tenha sido conquistado por Sérgio Jimenez, natural da paulista e pacata cidade de Piedade. Na sexta-feira ele participou de uma conference call na qual foi informado da decisão.
James Barclay, líder da divisão de competições da Jaguar, declarou que embora algumas metas do programa tenham sido atingidas, a crise provocada pela pandemia do Covid-19 foi um fator importante para interromper o programa de três anos um ano antes do previsto.
O programa da F-E não foi afetado; nele a marca ocupa o terceiro lugar entre as equipes, atrás da DS Techeetah e da BMW Andretti, e tem um piloto, Mitch Evans, como vice-líder, 11 pontos atrás do líder Antônio Félix da Costa, que soma 67. Barclay mencionou ainda que a empresa não abandonará o automobilismo:
“Nos mantemos totalmente comprometidos com o esporte a motor com carros elétricos e o nosso programa da F-E é parte importante de nosso projeto ‘Destination Zero’”, disse.
Esse programa de mobilidade ampla é voltado à fabricação de automóveis que ofereçam índice zero nos quesitos de poluição, acidentes e congestionamento. Efetivamente, o torneio com o I-Pace contribuiu de alguma forma nessa missão: graças ao desenvolvimento decorrente nas competições foi possível aumentar em 20 km a autonomia dos carros vendidos ao público.
Lançada no Salão de Frankfurt de 2017, a série foi a primeira categoria de automóveis elétricos a partir de um modelo de produção em série, modelo que é disponível no mercado brasileiro. Vinte automóveis foram preparados para representar os países onde a marca atua e participar de competições em provas que aconteceram em etapas selecionadas do calendário da F-E. O número de participantes desde então raramente passou de 12 carros por corrida e a temporada deste ano começou com a baixa de uma equipe, a norte-americana Rahal-Letterman. Diante de tudo isso ficou difícil manter a programação original de três temporadas.
Julgar a decisão da Jaguar em interromper o programa I-Pace eTrophy não vem ao caso e a própria F-E vê a possibilidade de anunciar o cancelamento da temporada 2019/2020, que até o momento teve apenas cinco etapas realizadas entre 14 previstas. As provas de Nova York (11/7) e Londres (25 e 26/7) já foram canceladas e as previstas para Jakarta (6/6) e Berlim (21/6) já foram adiadas. O calendário do I-Pace eTrophy marca três corridas realizadas na atual temporada, em Ryadh e na Cidade do México. Há possibilidades de que algumas etapas das duas categorias sejam realizadas em sistema de rodada dupla em autódromos da Inglaterra e da Alemanha e com os portões fechados ao público, o que seria inédito: até agora as corridas aconteciam em circuitos de rua e praticamente planos. A única exceção é a etapa disputada no México, que acontece no Autódromo Hermanos Rodriguez.
Jimenez entende a decisão – O último fim de semana não foi exatamente dos mais agradáveis para Sérgio Jimenez, que na sexta-feira foi comunicado do fim próximo da categoria. O piloto paulista declarou que a decisão da Jaguar é compreensível diante do panorama que o mundo vive:
“Não se pode criticar a decisão tomada em um momento difícil como o que estamos atravessando. Pelo contrário, deve-se elogiar a marca pelo esforço em fazer com a temporada seja disputada de uma forma ou de outra, o que é motivo para que eu trabalhe visando manter meu título. Do ponto de vista comercial entendo perfeitamente o que aconteceu: além de piloto, sou empresário e vivo as consequências dessa pandemia: mesmo podendo trabalhar (Jimenez tem uma rede de postos de combustível), fui obrigado a cortar 40% dos meus empregados e estou faturando cerca de 50% do que seria normal.”
Jimenez tem contrato de patrocínio para duas temporadas e estava iniciando negociações para estender esse apoio para mais uma. Segundo ele, existe a possibilidade de que os I-Pace atuais sejam incluídos em um novo campeonato multimarcas de carros elétricos, torneio que está em fase de estudos para, possivelmente, complementar a programação da F-E. “A Jaguar já provou que o produto é viável e interessante”, explicou o piloto, que este ano disputará a temporada brasileira de Stock Car pela equipe Maxoil.
CBA apresenta protocolo para a volta das corridas – A Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) divulgou uma cartilha onde descreve sugestões de comportamento e procedimentos para equipes, organizadores, pilotos e promotores para a volta da prática do esporte. A entidade esclarece que a decisão soberana sobre a realização de treinos e competições ainda depende de decisões governamentais. No Paraná esse retorno é praticamente consumado no que se refere a treinos, já em São Paulo o regresso ainda é incerto e não é esperado para terminar nas próximas semanas.