Céu e inferno na terra de Dante
Quando Enzo Ferrari faleceu em 1988, a Fórmula 1 vivia uma temporada onde os McLaren-Honda de Alain Prost e Ayrton Senna eram imbatíveis. Tudo parecia caminhar para o domínio total da equipe inglesa até que o campeonato chegasse ao mítico circuito de Monza: Senna, na pole position, e Alain Prost dividiram a primeira fila do GP da Itália e na antepenúltima aparecia um estreante na categoria, o francês Jean-Louis Schlesser, que substituía Nigel Mansell. Foi exatamente o estreante que protagonizou o resultado que celebrou uma das raras dobradinhas da Ferrari na F1 moderna.
Faltavam duas voltas para a bandeirada, quando Senna se aproximou da variante Della Roggia para iniciar o que seria a segunda a ultrapassagem sobre Schlesser na prova. O francês se atrapalha, deixa o carro escorregar e, após recuperar o controle do seu Williams, acaba batendo no McLaren do brasileiro. A primeira e única derrota da McLaren naquela temporada não era mais assunto: Gerhard Berger e Michele Alboreto chegaram em primeiro e segundo lugar e fizeram a massa de tifosi celebrar como nunca a vitória que foi uma homenagem póstuma a Enzo Ferrari, falecido havia cerca de um mês.
Trinta e quatro anos depois a Scuderia chegou a Imola cercada de otimismo por todos os lados, porcas e parafusos dos seus carros. Desta vez o desenrolar da história foi pintado nas cores que Dante Alighieri usou para o capítulo Inferno de sua Divina Comédia. Max Verstappen repetiu no GP da Emilia-Romagna o domínio que impôs na corrida Sprint na corrida disputada no sábado e que determinou o grid de largada do domingo. Para não deixar dúvidas sobre sua soberania no autódromo que leva o nome de Enzo e Dino Ferrari, fez também a melhor volta da corrida. Em outras palavras, marcou 34 dos 34 pontos possíveis nessa etapa: 8 pela vitória no sábado, um pela melhor volta e 25 pela vitória no domingo. Agora é vice-líder, 26 pontos atrás de Leclerc e a Red Bull está 11 atrás da Ferrari, que soma 124 no Campeonato de Construtores.
No box ao lado a Ferrari remoía a dor de ter visto Carlos Sainz ser alijado da prova na primeira volta, consequência de um toque de Valtteri Bottas em Daniel Ricciardo, manobra que fez o Ferrari do espanhol ir parar na areia ao lado da primeira chicane. Leclerc ainda se esforçou no domingo e chegou a ocupar o segundo lugar por meras duas voltas, mas tudo indicava que o terceiro lugar seria o melhor resultado, aquele que atenuaria ao máximo a vantagem absoluta do rival maior. Na esperança de alcançar o mexicano Sérgio Pérez e sendo perseguido por um jovem e faminto Lando Norris, o monegasco errou ao percorrer a variante alta e o possível pódio converteu-se em um amargo sexto lugar.
Terminada a prova, não faltou quem bradasse um “pintou o campeão”, alusão à majestosa apresentação de Verstappen e da primeira dobradinha da Red Bull desde o GP da Malásia de 2016. Nessa prova os touros vermelhos festejaram a vitória de Daniel Ricciardo, à frente de Max Verstappen. Da mesma forma que outros tantos fizeram a mesma previsão com a vitória acachapante de Leclerc no GP da Austrália, igualmente vale lembrar que restam, pelo menos, 18 etapas para o final da temporada e em 2021 o holandês e Lewis Hamilton chegaram empatados à última etapa da temporada. Tomara que este ano tal situação se repita com cores de paraíso e não com as do inferno, como aconteceu no ano passado.