Esfriando a emoção
Ainda é cedo para deixar de lado a punição imposta ao holandês Max Verstappen por uma ultrapassagem antológica sobre Kimi Räikkönen na última volta do GP dos EUA, prova disputada domingo no Circuito das Américas, em Austin, Texas. Nem mesmo a foto de Lewis Hamilton celebrando sua vitória no pódio junto com Usain Bolt, ambos fazendo o gesto que imortalizou o corredor jamaicano, supera em impacto a decisão da Federação Internacional do Automóvel.
Não demorou muito e a sigla da entidade (FIA), voltou a aparecer nas redes sociais com a interpretação "Ferrari International Assistance" (Assistência Internacional Ferrari), clara alusão à atitude que sugere uma forma de proteger a equipe italiana. A penalização de cinco segundos "por ter deixado a pista e ganhar vantagem" que relegou Verstappen do terceiro lugar no pódio para o quarto lugar na classificação geral da corrida foi, no mínimo, contraditória.
Analisando o fato em si fica fácil notar que o holandês certamente tirou vantagem ao enveredar por um terreno que não faz parte do palco do evento. Da mesma forma, inúmeras outras manobras similares foram notadas e nenhuma notificação oficial sobre o assunto consta dos boletins emitidos pelos comissários esportivos durante o fim de semana. Se na maioria das vezes os pilotos não ganharam posições com essa manobra, sem dúvida economizaram no tempo gasto por volta, o que configura vantagem. Fica, portanto, clara a inconsistência do poder constituído sobre a aplicação da regra.
Sob a ótica esportiva fica ainda mais nítido que a decisão puniu uma manobra que é cada vez mais rara no automobilismo, especialmente na Fórmula 1. Não restam dúvidas que Max Verstappen consolida sua imagem sobre um estilo de pilotagem dos mais arrojados e marcado por uma ou outra manobra mais temerária. Não foi este o caso da ultrapassagem que surpreendeu ao seu rival da Ferrari: o próprio Räikkönen reconheceu que foi surpreendido pela atitude do holandês. Tirar-lhe o terceiro lugar soa como desestímulo para que manobras espetaculares voltem a acontecer.
Num cenário onde o arrojo é algo que valoriza o atleta e o esporte, a decisão da FIA vai contra o trabalho desenvolvido pela Liberty Media para recuperar a imagem da F1. Várias ações promocionais praticadas no fim de semana, entre elas a entrada dos pilotos num estilo já usado em outros esportes e a inédita atitude de apoiar uma causa universal (a campanha do outubro rosa), mostram o esforço dos novos promotores. Certamente a FIA deveria colaborar um pouco mais com esse trabalho.
Falando em promoção, parece que os dias de Daniil Kvyat na F1 podem ter acabado, pelo menos no que diz respeito à sua permanência na Scuderia Toro Rosso. Como esta coluna previu na semana passada, o neozelandês Brendon Hartley continuará na equipe no GP do México, marcado para domingo, na capital mexicana, e Pierre Gasly volta à ativa depois de se ausentar para disputar a final do Campeonato Japonês de Super Fórmula. Gasly e Hartley deverão ser confirmados em breve como pilotos do time B da Red Bull para a temporada de 2018.
Super Fórmula – Ironicamente a ausência de Gasly no GP dos EUA aconteceu porque ele tinha condição de se sagrar campeão da categoria japonesa: a corrida acabou cancelada por causa das chuvas e Hiroaki Ishiura foi declarado campeão com apenas meio ponto de vantagem sobre o francês. Ainda no quesito pilotos, no estábulo do touro vermelho foi anunciada a renovação de contrato de Max Verstappen até a temporada de 2020, notícia que surpreendeu Daniel Ricciardo. Já se pode esperar que o australiano olhará com mais carinho ofertas para mudar de equipe ao final de 2018.
Quarto título – A vitória de Lewis Hamilton e o segundo lugar de Sebastian Vettel – que chegou a liderar as primeiras voltas da competição –, deixaram o inglês com uma mão e dois dedos na taça de campeão da temporada, resultado que o deixará empatado com o alemão em número de títulos mundiais. Para selar a conquista Hamilton precisa marcar nove pontos nas últimas três provas da temporada (México, Brasil e Abu Dhabi), desempenho que supera a condição de "mais do que provável" e é bastante próximo do "já ganhou".
Mercado americano – O sucesso do programa Mazda Road to Indy, considerado o mais completo na formação de novos pilotos de monopostos em todo o mundo, fez a FIA se mexer. No fim de semana de Austin foi anunciado o primeiro campeonato regional de F3 de acordo com as novas determinações da entidade e que será promovido pelo Sports Car Club of America, o SCCA. O torneio será disputado com monopostos Ligier, fabricados pela Onroak, e equipados com motor Honda de 270 hp, 2 litros e turbo compressor. O calendário de provas ainda não foi anunciado e é provável que ele coincida com as datas do campeonato estadunidense de F4, também promovido pelo SCCA.
Nas estradas paulistas – Competição de subida de montanha disputada sábado em percurso de 4,2 km na estrada que liga Monte Alegre do Sul a Serra Negra conseguiu boa aprovação entre os cerca de 30 pilotos que disputaram a prova. Com algumas melhoras, particularmente na promoção e divulgação, o evento pode conquistar um lugar interessante no calendário paulista. O melhor tempo do percurso foi obtido por Ricardo Wormke, que registrou a marca de 2’31″67 com seu Mitsubishi Lancer Evo.