Fórmula 1 chega a Mônaco, vitrine de sonhos, decepções e negócios
Junto com esta semana chega o GP de Mônaco, etapa mais badalada da temporada da Fórmula 1 e símbolo maior da atração que um local de área comparável a bairros da capital paulista e evento impacta de forma peculiar na milionária categoria. Nesse processo equipes e patrocinadores lutam para aparecer mais que conhecidos famosos e desconhecidos ilustres num jogo onde o vencedor é o próprio principado governado pela Família Grimaldi. Como a destacar a imponência do cassino local, o resultado da prova pode surpreender – são vários os pilotos que conseguiram nas estreitas ruas de Monte Carlo sua única vitória – consolidar a banca – alguns nomes foram consolidados com sucessivos triunfos na prova mais longa da temporada – como também negar a glória a campeões ilustres.
Território onde os impostos são cobrados ao mínimo necessário para manter uma estrutura de primeiro mundo notada no asfalto liso e jardins que parecem tratados por manicures, o Principado de Mônaco explora cada vez mais a fama conquistada com a F1. O filme Grand Prix (1966, direção de John Frankheimer) explora o cenário em suas sequencias iniciais, a baía local tem congestionamento digno de porta de estádio em dia de clássico e o circuito que serpenteia entre aclives, praças, cotovelos e túneis já recebe dois eventos anuais no mesmo circuito que, a partir de quinta-feira, serve de passarela para as Fórmulas 1, 2 e Renault by Alpine, além de uma etapa da Porsche Cup.
Nos últimos anos o Automobile Club de Monaco descobriu que usar o mesmo circuito para maximizar o alto investimento necessário para montar o circuito de 3.337 metros pelas ruas do principado. Além do Rali de Monte Carlo, etapa importante do Campeonato Mundial da modalidade e que é disputado nas estradas da região, a Fórmula E utilizou este ano uma versão reduzida do circuito pelo lay out clássico, que também é usado para provas de carros históricos de F1. Não bastassem tais ações, a corrida monegasca é também a única que tem um intervalo de 48 horas entre os dois dias de treinos oficiais, que iniciam na quinta-feira e só tem continuidade no sábado. Uma forma pouco sutil de estender a permanência de público e profissionais no principado e aumentar o faturamento de hotéis, restaurantes, cassinos, lojas de grifes milionárias e, certamente, visitar instituições financeiras locais.
No que diz respeito às equipes e pilotos, a atmosfera de Mônaco também é motivo de preocupação especial: qualquer patrocinador sente-se mais prestigiado ao ser convidado a acompanhar seu time nesse ambiente de luxo, sorrisos e joias desfilando em celebridades de vários níveis. Este cenário facilita a renovação de contratos existentes e ajuda a aumentar as cifras já praticadas nos patrocínios atuais. Como que a complementar a paisagem, o tráfego de helicópteros é quase tão congestionado quanto o de automóveis raros e, em alguns casos, materialização de sonhos de gosto discutível...
O clima de luxo também sofre com ações mais mundanas: anos atrás a Red Bull trouxe personagens da franquia Star Wars para “photo opportunities”(eufemismo para olhem para mim...) e a Jaguar (hoje Red Bull) aplicou diamantes nos bicos de seus carros para promover uma joalheria. Um acidente com Mark Webber fez a pedra preciosa voar dali e a conta do conserto ficou um pouco mais cara que o normal, de praxe já bem caro. A McLaren tem tudo para ser a novidade deste ano ao chegar com um visual que remete à clássica pintura da Gulf nos Ford GT40 dos anos 1970, o azul celeste com faixa laranja avermelhado. Tem tudo para sair ganhando, exceto se um time concorrente não surpreender a partir desta quarta-feira, quando o circo começa a funcionar a pleno vapor.
Os brasileiros Felipe Drugovich, Gustavo Samaia e Gianfranco Petecof serão os representantes verde-amarelos no fim de semana: todos eles disputam a prova de Fórmula 2, preliminar mais importante da temporada. Vale lembrar que até nestas corridas as surpresas acontecem: em 2003 o sueco Björn Wirdheim já celebrava a vitória na prova de F-3000 e decidiu praticamente parar em frente ao box da equipe Arden. O dinamarquês Nicolas Kiesa não perdeu a oportunidade e transformou o que era um segundo lugar garantido em uma vitória surpreendente. Detalhe: quem chefiava a equipe Arden nessa ocasião era ninguém menos que Christian Horner, hoje chefão da Red Bull Racing.
Se serve de consolo, Björn Wirdheim está em boa companhia: campeões mundiais como Jim Clark, Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet nunca venceram em Mônaco e até o Professor Alain Prost teve várias desilusões nas ruas do Principado. Por outro lado, Graham Hill e Ayrton Senna têm seus nomes ligados a inúmeras vitórias nessas ruas que, fora da época do GP, mostram apenas asfalto liso e luxo mais discreto. Outros como Jarno Trulli, Jean-Pierre Beltoise e Olivier Panis se destacam por terem vencido em Monte Carlo, e apenas lá.