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26/05/2021 09:30

Fórmula 1 em Mônaco teve penitência, graça, pecado e ressureição

Escrito por Wagner Gonzalez
Jornalista especializado em automobilismo de competição

Foto: Mercedes

Poucas ultrapassagens na pista deram ares de procissão ao GP de Mônaco


O desenrolar das 78 voltas do GP de Mônaco foi, para muitos, uma verdadeira procissão. Certamente não faltaram olhos mais atentos que viram penitências, graças e pecados no fim de semana que a F1 se apresentou no pequeno principado mediterrâneo. Desde a ausência do pole position no grid de largada, passando pela troca de liderança nos campeonatos de pilotos e equipes e pelos erros cometidos por quem era soberano até a compuseram um cenário digno de um ritual religioso, onde não faltou nem mesmo a ressureição de quem andava apagado. O saldo disso tudo é uma lufada de renascimento na temporada 2021, que prossegue na semana que vem em exótico circuito de rua à beira mar, mais precisamente em Baku, capital do Azerbaijão.

Nas ruas de Monte Carlo volta e meia resultados inesperados são notados e no último fim de semana viveu-se esse tipo de ambiente, a começar pelo desfecho da prova de classificação. É sabido que uma das principais qualidades de Charles Leclerc é seu estilo arrojado, característica que o levou a sacrificar sua participação em uma corrida onde deveria largar na pole position. Uma tangência mal calculada na saída do “S” da piscina foi a gula que deixou o monegasco a ver os botes na baía de Monte Carlo fora do ambiente sagrado que é o cockpit de seu Ferrari. A maneira como a Scuderia lidou com a reparação do seu carro – primeiro falou-se em quebra de semieixo, depois em fratura da manga de eixo –, mostra que um período de retiro espiritual pode ajudar a colocar ordem na casa onde Carlos Sainz vai mais devagar porque deve acreditar que o santo é de barro: seu segundo lugar foi conquistado com tranquilidade e segurança.

Enquanto isso os apóstolos da Red Bull não esmoreceram e a partir da metade da prova ganharam o reforço dos deuses maias materializados em uma atuação destacada do mexicano Sérgio Pérez. Seu quarto lugar, colado à traseira de Lando Norris, somado aos 25 pontos da vitória de Max Verstappen levaram a equipe austríaca a liderar em dobradinha: pela primeira vez na era dos motores híbridos equipe lidera o campeonato de Construtores e o holandês sente o gostinho de comandar o Mundial de Pilotos. A conferir quanto tempo esta graça estará na condição de alcançada.

No campo do Império Anglo-Teutônico viu-se cair a primeira pedra atirada após uma longa série de corridas onde seus pilotos foram presença constante no pódio. Erros de naturezas diferentes impediram a manutenção dessa escrita: Hamilton reclamou de mudanças na celebração do seu domingo por ter sido chamado para trocar pneus antes do que ele pedia e Bottas conformou-se em aceitar a sina que se apresenta cada vez mais danosa aos seus sonhos de chegar ao título. Desta vez sua participação foi interrompida por causa de uma porca que insistiu em ficar onde não deveria.

Grande destaque do fim de semana foi Sebastian Vettel após um período de agruras que durou várias temporadas e um início de ano muito aquém do se esperava de um tetra campeão mundial. No principado o alemão resplandeceu a bordo do Aston Martin que por quatro provas o fez viver numa atmosfera de expiação. Para fugir de dedos apontados e odes que pregam seu fim, o alemão precisa transformar a ressureição de Mônaco em um milagre que produza muitos peixes nas próximas celebrações.

A despedida de Ribeiro e Mosley – O automobilismo perdeu dois nomes importantes nos últimos dias, André Ribeiro e Max Mosley. Ribeiro, exemplo de piloto batalhador e pessoa generosa e educada, garantiu a primeira vitória da Honda em provas da Fórmula Indy ao vencer a etapa de New Hampshire em 1996, resultado que repetiu em Jacarepaguá e em Michigan. A seriedade do seu trabalho e seu perfil ético o levaram a ocupar um posto na equipe de Roger Penske, de quem tornou-se sócio em um dos maiores grupos de concessionárias de automóveis no país. Ribeiro tinha 55 anos, deixa três filhas e faleceu de câncer no intestino.

Max Mosley, de 81 anos, foi responsável por quebrar a hegemonia de Jean Marie Balestre à frente da Federação Internacional de Automobilismo, entidade que comandou de 1996 a 2001. Filho de Oswald Mosley, fundador da União Fascista Britânica, Max foi um dos fundadores da March e parceiro e amigo próximo de Bernie Ecclestone, com quem colaborou profundamente na consolidação da F1 como esporte mundial de primeira grandeza.

Plantão CBA – A Confederação Brasileira de Automobilismo lançou no último fim de semana o serviço Plantão CBA, uma importante iniciativa que tem por finalidade fazer chegar à imprensa especializada praticamente em tempo real os resultados e decisões tomadas pelos comissários técnicos e desportivos das provas de campeonato brasileiro. A medida merece elogios e contribui para diminuir, e até mesmo anular, o desgaste provocado por decisões que alteravam o resultado de competições horas depois da bandeirada e celebração no pódio.

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