O futuro está de volta
Não chega a ser exatamente no padrão “Especial de Natal de Roberto Carlos”, mas os treinos de pré-temporada da Fórmula 1 sempre ajudam a dar uma boa ideia sobre as forças do bem e do mal que irão prevalecer nos próximos 20 capítulos do campeonato. Conclusões ficarão mais claras após três ou quatro corridas – Austrália, China, Bahrain e Rússia -, mas o que aconteceu em Barcelona nesta segunda-feira já dá uma ideia de como andam as coisas nesse universo. Equipamentos de testes, número de voltas e decisões tomadas a cada pane são os indicadores mais confiáveis nesse jogo de especulação com fundinho de verdade, jogo onde Mercedes e Ferrari sobressaíram, Williams surpreendeu e a Red Bull viveu o primeiro soluço com o motor Renault rebatizado Tag Heuer.
A Mercedes foi a equipe mais rápida do dia, com Lewis Hamilton (1’21”765, à tarde, pneus macios), enquanto Valteri Bottas foi o segundo pela manhã (1’23”169, pneus macios), o que lhe garantiu o sexto tempo do dia. Numa demonstração de força, o time apareceu com novas soluções de aerodinâmica, a mais interessante delas um capô traseiro que mostra uma barbatana de tubarão reduzida e com uma abertura superior. Aparentemente, esta solução é baseada no Princípio de Bernoulli: o uso de uma saída de seção menor que o da entrada do fluído no compartimento do motor cria um fenômeno que aumenta a velocidade da saída do ar (no caso, quente) e ajuda a amenizar a turbulência superior; consequentemente consegue-se melhorar o fluxo de ar que se move em direção à Asa T e ao aerofólio posterior. Além disso o time alemão fez medições da turbulência que acontece na região posterior às rodas dianteiras.
Tal qual a Mercedes, que completou 165 voltas, a Ferrari também passou das 100 voltas e registrou 128, todas elas com Sebastian Vettel, o mais rápido de manhã (1’22”791) e autor do segundo melhor tempo do dia (1’21”878). Esta marca, assim como a de Lewis Hamilton, já está abaixo da pole position do GP de 2016 (1’22”000, Hamilton), o que comprova que os novos carros serão mais eficientes que os usados no ano passado. Vale lembrar que o alemão marcou seu tempo com pneus médios, menos aderentes que os montados no carro do inglês. Se na parte da tarde correu tudo bem para a Ferrari, na parte da manhã a Scuderia teve algumas preocupações com o comportamento da suspensão traseira do chassi SF70H.
Completando o trio de times que superou a casa das 100 voltas, a Williams surpreendeu e mostrou-se mais confiável e eficiente que a Red Bull. Felipe Massa (3º tempo, 1’22”076, pneus macios) era só sorrisos ao final dos treinos e o responsável pela equipe na pista, Rod Nelson, adotou um programa de trabalho dos mais variados: saídas à pista para completar séries curtas e longas de voltas, variando acertos de suspensão, pneus de compostos médio e macio.
As demais equipes viveram emoções mais fortes e reagiram de formas diferentes. A Haas, por exemplo, voltou a ter problemas com os freios, algo que privou o time de marcar muitos pontos na segunda fase da temporada passada. Uma travada das rodas traseiras acabou provocando o primeiro acidente do ano: Kevin Magnussen (4º tempo, 1’22”894, pneus macios) bateu na curva 10 e danificou o bico do seu VF17. Numa atitude que demostrou o amadurecimento do time americano, a equipe reagiu com tranquilidade e o dinamarquês voltou à pista.
Igualmente com problemas de menor importância – acumulador de energia e um sensor do motor – Daniel Ricciardo (5º tempo, 1’22”926, pneus macios) deu apenas quatro voltas pela manhã. O retorno às atividades de pista só aconteceu por volta das 16 horas, consequência da dificuldade em substituir os elementos que falharam.
A Force India começou bem o dia: pela manhã Sérgio Perez marcou o terceiro tempo (1’23”709, pneus macios, sétimo melhor tempo do dia), mas um problema com o escapamento levou o engenheiro Tom McCulough a abortar os trabalhos como “medida de precaução”, entenda-se vamos evitar um dano maior e mais caro para ser consertado…
Na Toro Rosso, situação parecida, mas Carlos Sainz Jr (8º tempo, 1’24”494, pneus médios), completou 51 voltas, 12 a mais que Pérez, e checou tantos elementos e reações do novo STR12 quanto possível.
Estreante na Renault, o alemão Nico Hulkenberg (9º tempo, 1’24”784, pneus médios) comentou que que “não tivemos um dia livre de problemas, mas foi uma boa estreia na minha nova equipe”. Segundo Nick Chester, responsável pelo chassi do carro francês “nosso maior problema foi com os dutos dos freios dianteiros”.
Na McLaren, mais do mesmo: novamente o motor Honda deu problemas logo na primeira volta que Fernando Alonso (10º tempo, 1’24”852, pneus macios) completou no treino da manhã, algo que mexeu com os brios do espanhol. “Espero que isso não se repita. Já perdi um dos quatro dias de testes previstos antes do início da temporada, dia 26, em Melbourne, o que não é bom”. Uma pane nos circuitos de óleo do motor forçou uma troca da unidade de potência defeituosa, que será examinada com muita atenção pelos técnicos japoneses. Para acalmar seu primeiro piloto, a McLaren já admite rever a carga horária dos pilotos para a pré-temporada. Incialmente essa agenda está dividida em quatro dias de testes para Fernando Alonso e outros quatro para Stoffel Vandoorme.
Tal qual Mercedes e Ferrari, a Sauber também não surpreendeu: o sueco Marcus Ericsson foi o mais lento na pista (11º tempo, 1’26”841, pneus médios). Ele desenvolveu um programa de avaliações de aerodinâmica e acerto básico, agenda que a equipe classificou como processo de levantamento de dados do novo carro.
Os treinos prosseguem hoje e se estendem até esta quinta-feira; após uma interrupção de três dias recomeçam para mais quatro sessões diárias na segunda-feira, dia 4.