O mínimo que pedem é acalmar Max
A disputa do Grande Prêmio da Bélgica ressaltou o arrojo de Max Verstappen, que dividiu a primeira fila com o pole position e vencedor da prova Nico Rosberg: nem mesmo o sempre frio Kimi Räikkönen ficou imune ao estilo abusado do jovem holandês de 18 anos. Não é a primeira vez que um novato interfere na zona de conforto de nomes consolidados na Fórmula 1, tampouco nem todos que causaram desconforto aos vencedores de plantão entregaram o que suas atuações prometiam. Por enquanto, o mínimo que pedem é acalmar Max. Com oito corridas ainda por se realizar, certamente o assunto ainda vai render manchetes até o final da temporada, temporada que prossegue domingo, com o GP da Itália, em Monza.
O final de semana em Spa-Francorchamps, porém, teve muito mais que as estripulias do menino holandês: teve a Mercedes demonstrando como se explora as falhas do regulamento ao trocar vários motores no carro de Lewis Hamilton; teve muito boato e nenhuma confirmação de mudança de pilotos para 2017 e a Force India passando a Williams na classificação entre os construtores. De quebra, a estreia de Esteban Ocon, esperada com um verdadeiro duelo de futuros gigantes com seu companheiro de equipe Pascal Wehrlein, passou quase que despercebida.
A F1 tem vários casos de pilotos novatos que se destacaram pela rapidez com que passaram a disputar posições com nomes consagrados: Jody Scheckter, Riccardo Patrese, Ayrton Senna, Michael Schumacher, Romain Grosjean e Sebastian Vettel são alguns desses nomes. Nélson Piquet poderia ser incluído nessa lista, não fosse sua primeira temporada completa ter sido disputada a bordo de um Brabham-Alfa Romeo em fase de desenvolvimento. Alguns chegaram ao estrelato, outros não ultrapassaram a barreira que marca o posto de segundo piloto. Todos eles causaram alvoroço naquilo que anos atrás eram comum chamar de “establishment”. O sul-africano Scheckter, o italiano Patrese e o franco-suíço Grosjean quase foram banidos da categoria pelas tantas as confusões que criaram e outras que lhes foram imputadas com certa injustiça.
Max Verstappen ainda está em período de descobertas. Marrento, nem por isso deixa de dar seu recado de forma clara e sempre diz que a culpa nunca é dele, quem sabe por sentir-se mega protegido por Helmut Marko e os deuses da equipe Red Bull. Aqui cabe muito lembrar o histórico da equipe: no confronto direto entre Sebastian Vettel e Max Webber o australiano saiu perdendo, e o russo Daniil Kvyat amarga até hoje ter perdido seu posto para ninguém menos que… Verstappen.
O que gera mais espanto é que o holandês começa a ficar conhecido pela maneira como defende sua posição na pista. Quando descreve “que estava apenas defendendo minha posição” não hesita em mudar seu traçado ou alterar seus pontos de frenagem para deixar seu adversário em uma situação crítica, como aconteceu, por exemplo, em Mônaco e Spa. Até agora ninguém se machucou e os prejuízos podem ser considerados, no máximo, materiais, ainda que na Bélgica o moral da equipe Ferrari tenha saído bastante chamuscado. Foi de dentro da Scuderia, na voz de um Räikkönen perto de derreter, que saiu o comentário mais veemente:
“Se ele (Verstappen) continuar assim, vai acabar batendo muito forte. (…) Ter que frear no meio da reta para não bater não me parece correto”. Vindo de alguém conhecido como homem de gelo, responder no calor da disputa tem um peso considerável. Max Verstappen é rápido? Sim. Arrojado? Sem dúvida. Será campeão?… Quem viver, será. Sim, será, com “S” de “se”. Você pode ver o acidente em detalhes, e os comentários de Kimi Räikkönen, Max Verstappen e Sebastian Vettel.
O regulamento atual da F1 determina um número máximo de unidades para vários itens, como por exemplo, cinco motores durante toda a temporada e uma caixa e câmbio a cada seis corridas. Violar essas regras significa perder posições no grid. Como no GP da Áustria Lewis Hamilton usou o quinto motor do ano, a Mercedes mostrou que a FIA não contava com a astúcia dos dos alemães: em Spa, instalaram mais motores do que o necessário, assim como novos recuperadores de energia térmica e cinética, colecionando penalidades que significaram perder inúmeras posições no grid. Para se ter uma ideia de como funcionam as penalidades: o sexto motor significa perder cinco posições no grid, o sétimo dez e assim por diante.
Para cada elemento extra que ultrapasse o limite aplica-se a mesma proporção. Como em Spa as longas retas favorecem a potência do motor alemão, o prejuízo saiu barato, aliás, o terceiro lugar na corrida foi um tremendo lucro: manteve o inglês na liderança do campeonato, agora com nove pontos sobre Rosberg. Se você quiser saber como anda o campeonato ou o resultado completo da corrida, aqui você encontra tudo.
Com as três principais equipes (Mercedes, Ferrari e Red Bull) mantendo-se inalteradas para 2017, os comentários e boatos sobre quem fica, quem sai e quem chega ganharam intensidade. Já se fala numa Williams com Sérgio Pérez e Felipe Nasr, numa Renault com Valteri Bottas e sabe-se lá quem, em Felipe Massa e Jenson Button mudando de ares, de categoria e de vida, e no belga Stofel Vandoorne assumindo, finalmente, um lugar na McLaren. Se o mexicano se arrisca a sair de uma equipe em ascensão para entrar em uma em franca decadência, o belga parece estar com muito cartaz no paddock, a julgar pela declaração de Toto Wolff: “O Ron Dennis seria louco em não promover Vandoorne. Se ele não fizer isso eu mesmo arrumo um lugar para ele andar de F-1 no ano que vem”.
Voltando à Renault, a marca teve altos e baixos neste fim de semana. Num circuito onde o motor tem que mostrar o que vale, o segundo lugar de Daniel Ricciardo confirmou o progresso da máquina. Já o acidente de Kevin Magnussen criou uma situação inusitada, ainda que o dinamarquês garanta que estará de volta em Monza, no próximo fim de semana. Com a promoção de Esteban Ocon, então piloto-reserva, à condição de piloto oficial da Manor a equipe francesa decidiu não anunciar um substituto.