Pilotos querem Fórmula 1 com carros mais macios
Se a superioridade da equipe Red Bull e do piloto Max Verstappen são inquestionáveis na atual temporada da Fórmula 1, os bastidores da categoria mais popular do automobilismo mundial seguem movimentados, dentro e fora dos autódromos. O campeonato prossegue dentro de duas semanas em Singapura, um dos circuitos mais longos e mais sinuosos do calendário e onde os treinos e a corrida são disputados à noite para evitar os altos índices de calor e umidade locais. Indiferentes à causa perdida, os pilotos estão se organizando para cobrar de suas equipes carros mais macios, medida que visa diminuir os efeitos dos modelos atuais ao longo da coluna.
A preocupação dos pilotos com relação à rigidez dos carros da F1 foi um dos assuntos mais abrangentes dentre os que movimentaram o clássico Autódromo de Monza no último fim de semana. O assunto não é novidade: no final dos anos 1970 o inglês Colin Chapman revolucionou (mais uma vez) os conceitos de aerodinâmica aplicada nos carros de competição ao explorar o efeito solo, fenômeno que aumenta a aderência ao criar fluxos de ar de diferentes velocidades através de carenagens especificamente projetadas para tal.
A diferença de pressão entre eles aumenta a aderência do automóvel à pista. O princípio de sua ideia é a inversão do perfil de uma asa de avião. O aumento da eficiência dos carros e, principalmente, da velocidade atingida nas curvas levou a Federação Internacional do Automóvel (FIA) a tentar reduzir, ou mesmo anular, essa evolução. Desde então o assunto tomou ares de um jogo entre gato e rato, onde eventuais quedas de rendimento são anuladas em menos de uma temporada.
Há um bom tempo os carros atuais da F1 são obrigatoriamente equipados com uma prancha de madeira ao longo da parte inferior do chassi que se estende desde uma linha imaginária que passa pelo eixo dianteiro até a mesma referência no eixo traseiro. Para evitar o desgaste dessa prancha, algo que tornaria o monoposto passível de ser considerado fora do regulamento, são instaladas pequenas peças de titânio em pontos estratégicos desse componente. É isso que causa as faíscas eventualmente notadas na traseira dos carros.
Se o centro do assoalho segue plano, o entorno lateral é cada vez mais uma intrincada peça projetada para conduzir o ar de forma a gerar mais estabilidade e aderência. No paddock da F1 essa é a principal vantagem dos carros da Red Bull, que exibem as maiores velocidades em retas. Ocorre que a carga gerada é tão grande que desde o ano passado cresceram significativamente as reclamações dos pilotos sobre as consequências geradas, a principal delas referente a dores lombares. Detalhe importante: isso envolve pilotos veteranos e outros da nova geração, incluindo Lewis Hamilton, o heptacampeão mundial. Não foram necessários muitos GPs na temporada passada para ele ser um dos primeiros a reclamar dos efeitos gerados pelos efeito “purpoising” (entre nós chamado de efeito golfinho), quando os carros andam como se estivessem ricocheteando sobre o asfalto das retas. A vibração era tão intensa que as próprias equipes optaram por buscar soluções para atenuar a situação.
A pole position do GP da Itália de 2020 foi conquistada por Lewis Hamilton, que fez o percurso de 5,793 km em 1’18”887, equivalente à 264,332 km/h. Este ano espanhol Carlos Sainz foi o mais rápido nas provas de classificação ao registrar a velocidade média de 259,730 km/h. Foi o próprio Sainz que admitiu que a situação está se tornando insustentável ao declarar que ele e seus pares estão se organizando para cobrar carros menos duros. Neste caso o termo duro destaca a ausência quase que total dos movimentos da suspensão, grosso modo seria como descer uma rua calçada com paralelepípedos desnivelados a bordo de um carrinho de rolimã.
O alemão Nico Hulkenberg, um dos veteranos do grid, declarou que nunca pilotou um carro tão rígido quanto seu atual Haas VF23 em toda sua carreira, iniciada no GP do Bahrein em 2010. “Muitos pilotos entendem que é algo que nós gostaríamos de alterar”.
Valteri Bottas, finlandês que defende a equipe Sauber-Alfa Romeo, foi categórico sobre o caminho a ser tomado para solucionar o problema. “Será preciso mudar o regulamento: nenhuma equipe vai fazer carros mais macios se isso significar carros mais lentos”.
Entre os mais novos é do inglês Lando Norris a voz mais crítica sobre a situação atual. “Hoje não é possível encarar a situação sem ajuda da fisioterapia. Eu faço alongamentos diariamente, pela manhã e à noite, e quando não faço as dores pioram”. O piloto de 23 nos de idade lembrou que por causa disso já evita fazer o “track walk”, atividade que as equipes realizam na quinta-feira antes do início dos treinos e implica em fazer uma caminhada por todo o circuito.
Limite de gastos – A FIA anunciou nesta segunda-feira que todas as equipes que participaram do Campeonato Mundial de F1 de 2022 respeitaram o limite de gastos anuais, US$ 140 milhões, algo em torno de R$ 700 milhões. Em 2024 o limite será reduzido para US$ 135 milhões, ou R$ 675 milhões de acordo com a taxa de câmbio vigente hoje.