Foi encerrada a primeira fase do Brasileiro neste sábado, dia 13, em Serra (ES) e o tradicional balanço e análise do Kart Motor chega à conclusão de que tivemos muito mais pontos positivos do que negativos. Porém, o pior dos pontos negativos acabou por causar estragos que fizeram acontecer o que sempre acontece: as pessoas esquecem o que teve de bom e lembram apenas o que teve de ruim.
O que teve de bom, de pontos positivos, em Serra? Muito, realmente em grande quantidade. O Kartódromo Internacional de Serra, através da Assepak, ofereceu uma bela estrutura aos competidores e isso resume muita coisa.
A pista, com exceção do asfalto já gasto, é muito boa em seu traçado e oferece boas áreas de escape. E praticamente tudo em seu entorno funcionou bem. A área de boxes atendeu a todos os participantes, que se organizaram com suas barracas, alguns até fora, em seus caminhões e motor-home. Não faltou espaço. Lojas bem posicionadas, à vista de todos.
Dentro da pista residem pontos positivos e negativos, e os negativos serão tratados mais tarde. Os positivos ficam por conta das grandes provas que tivemos, especialmente nas Finais, quando a adrenalina em alta revela que naquele momento conheceremos um campeão. Tivemos belas provas, em sua maioria sem incidentes, mas com advertências e desclassificações justas, o que faz parte do esporte. Houveram atitudes antidesportivas não punidas? Sim, certamente, mas ver tudo é praticamente impossível, infelizmente.
A final da Mirim, especialmente, foi memorável, como relatamos logo após a bandeirada, e coroou apenas um campeão, claro. Mas mostrou que os outros cinco pilotos que estiveram na disputa mais bonita e eletrizante deste Brasileiro também merecem ser chamados de campeões. Não tivemos campeões que não mereceram, e muito pelo contrário, cada um dos nove é um grande campeão e certamente fez uma bela campanha, ao lado de sua equipe. Só um vence, mas muitos outros merecem ser aplaudidos.
Falando em pilotos, 216 estavam em Serra, número recorde para uma primeira fase de Brasileiro, outro ponto extremamente positivo. E os ótimos grids da Cadete, Júnior Menor, Sudam, F4 Graduados e Sênior - que juntos tiveram mais de 50 karts - são os destaques.
Dois pontos positivos devem ser destacados com grande ênfase, o primeiro deles o empenho de toda a equipe de trabalho da Assepak, presidida por José Varella. Além do empenho, a educação e a vontade de fazer a todos se sentir realmente em casa.
O segundo ponto é algo que realmente até hoje só vi no Espírito Santo: transmissão pela televisão ao vivo para todo o Brasil, graças à Record News. Foi incrível e gratificante ver profissionais de televisão empenhados em levar para os brasileiros imagens de corridas de kart e por ela – a Record – saber que não apenas o futebol tem grandes eventos. Um especial parabéns à Record News e à Rede Sim por ter feito o que fez.
A secretaria atendeu bem a todos, fez bem seu trabalho, mas fica a dica para a CBA uma forma de agilizar o processo de inscrições, já que muita gente ficou em filas demoradas, alguns reclamando de ficar esperando por uma ou duas horas. Na era da informática e do depósito pela internet, certamente algo pode ser melhorado – e os todos os pilotos encaminharem sua inscrição e pagamento antecipado é um caminho. A linha a seguir pode ser também uma forma de pagar combustível e pneus de forma antecipada, porque muito da demora era para pagar estes itens. Depois, basta chegar na secretaria, confirmar tudo e sair dela em cinco minutos.
Outro ponto a ser revisto para um Brasileiro – onde não se espera menos do que 200 pilotos – é o Parque Fechado. Em Serra, que tem um Parque Fechado bem organizado, ele se revelou pequeno para a quantidade de concorrentes em algumas categorias e, em alguns momentos, produziu engarrafamentos e algumas confusões em seu fluxo natural.
Por fim, os banheiros – o masculino por olhos próprios e o feminino, por reclamações – não estavam bem cuidados e deveriam ter recebido uma atenção melhor. Forte odor, chão sujo e papel higiênico em grande volume nas cestas eram algo fácil de resolver.
Um pequeno palanque de madeira foi construído na área de box, diga-se de passagem totalmente desnecessário, em uma análise inicial. A seu lado, em uma construção adequada – andaime – ficava um posto de transmissão da Record. Porém, antes da largada da Final da Sudam, aquele palanque de madeira ruiu e todos que estavam sobre ele caíram. Ninguém se feriu gravemente, mas a mãe de um piloto teve que ser internada. Ela está bem e tudo está tranquilo. No entanto, ou a construção não deveria estar lá – para que foi feita? – ou deveria ter alguém controlando a quantidade de pessoas sobre ela.
Bem, voltamos então à pista propriamente dita e as coisas acontecidas dentro dela. O “dentro dela” remete exclusivamente à Direção de Prova como um todo – aí incluídos Comissários Desportivos, Diretor de Prova e Diretor Adjunto – e retira responsabilidades dos organizadores locais, a Assepak. E, sempre é bom lembrar, dentre os Desportivos há sempre um representante da federação local, assim como o próprio Adjunto, enquanto os demais representam a CBA.
Na primeira classificatória da Sudam um acidente ainda na primeira volta, que resultou na quebra de um dedo do pé do futuro campeão Yurik Carvalho, demorou muito a ser atendido, mais exatamente oito voltas. O que colaborou para a demora no atendimento ainda está de certa forma nebuloso em minha cabeça, mas é necessário dizer que não é a ambulância que presta o devido socorro e sim os socorristas em todas as situações de acidente. De toda forma, estes demoraram a socorrer, porque estavam mal posicionados, já que a pista é grande. Quanto a falta e depois a demora da bandeira vermelha, concluo que houve um erro grave, já que depois ela foi efetivamente usada – e também a ambulância –, o que comprovou a necessidade de ambas. Depois, foi corrigido o posicionamento dos socorristas e os acidentes passaram a ser atendidos prontamente.
Três casos semelhantes, de encerramento da prova antes do tempo, aconteceram na Final da Cadete, Júnior Menor e Júnior. E é necessário explicar que em Serra as duas últimas curvas da última volta são estratégicas, quase sempre definem ou poderiam definir um título. Ou seja, fazia parte da estratégia do segundo colocado “dar o bote” final naquele momento. Vamos ficar inicialmente com o mais fácil de explicar, o da Cadete.
Prevista para ter 15 voltas, a Final da Cadete teve 13 e a explicação é simples. A cada tentativa de largada que não dá certo a Direção de Prova tira uma volta e isto é praxe em todas as categorias. Duas tentativas de largada frustradas explicam duas voltas a menos.
O caso da Júnior Menor é mais complicado, já que eram previstas 20 voltas, da quais apenas 15 foram completadas. A explicação inicial da Direção de Prova foi um acidente, que necessitava a intervenção da ambulância e, por isso, foi encerrada exatamente quando os 75% de prova regulamentares foram completados, para que valesse efetivamente o que a pista mostrou e não ter que recomeçar a corrida. Porém, uma destas duas atitudes deveriam ter sido tomadas. A primeira: já que foi esperado chegar aos 75% de prova, dava para avisar com placa o 3, 2, 1. A segunda: bandeira vermelha e azar dos 75%. O encerramento prematuro não permitiu que a estratégia do segundo colocado, Arthur Leist, fosse posta em prática e isto gerou protestos incisivos.
O terceiro caso foi o mais grave, o da Júnior. E aí pode-se afirmar com toda a certeza que houve um erro. Foram, sim, mostradas três placas pelo Diretor Adjunto. A primeira sinalizava três voltas, a segunda também sinalizava três voltas e a última sinalizava duas voltas. A próxima e natural atitude do Diretor de Prova Bruno Barônio, nesta sequência de três placas – mostradas à sua frente e que por isso não as vê – era a bandeira quadriculada, finalizando a corrida. Neste caso Pedro Cardoso, que ficou com o vice, e Zaiya Fontana, o 4º, não puderam por em prática a estratégia e passaram reclamando e depois foram pessoalmente à Direção de Prova mostrar seu descontentamento.
Houve, a partir daí, uma invasão na pista, de pais, pilotos e mecânicos, exigindo providências que reparassem o erro. Explicações daqui e dali tentaram resolver o problema, que acabou não resolvido, justamente porque não havia mais o que fazer, apenas admitir o erro. Com dificuldade, todos foram retirados da pista para que fosse disputada a última prova do Brasileiro, da F4 Sênior.
Não há o que reclamar na Cadete, há o que reclamar na Júnior Menor, uma vez que faltavam cinco voltas, e há muito o que reclamar na Júnior, sim. Não se sabe se a estratégia dos pilotos de atacar na última volta daria certo – e ninguém sabe se daria certo, porque ninguém sabe o futuro. Não foi dada a chance? Sim, não foi dada a chance. Os pilotos passariam na última curva da última volta? Sim, ou não. Erros houveram? Sim, erros houveram e devem ser corrigidos. E, especialmente, devem ser admitidos pela CBA, já que foram erros humanos (e errar é humano, lembram?), mas que podem – ou não – ter jogado por terra um grande investimento financeiro. E devem ser admitidos pela CBA, porque a CBA não deve posar com arrogância. Este seria o primeiro passo para que os pilotos voltem a respeitar a entidade e seus Comissários nas mais diversas situações que a envolvem quando se fala do Parque Fechado em diante.
Por fim, uma constatação que não deve ser esquecida e que eu, por mim, considero primordial todos terem na cabeça. Gianluca Petecof e Giuliano Raucci, campeões brasileiros da Júnior Menor e Júnior, são muito merecedores do título que conquistaram. Não estavam ali, naquela posição, por acaso. E também não estavam ali, por acaso, Arthur Leist e Sérgio Crispim na Júnior Menor, e Pedro Cardoso e Zaiya Fontana na Júnior. Trabalharam e mereceram estar ali, assim como os campeões. E nenhum dos seis pilotos tem culpa alguma do que aconteceu.
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E vamos para Fortaleza!