Mais uma fase de um Campeonato Brasileiro foi realizada, desta vez no lendário Kartódromo de Interlagos, que há 17 anos não recebia nossa mais importante competição. A última vez que o Brasileiro por lá esteve foi em 1994.
Bem, 203 pilotos de oito categorias estiveram em Interlagos desta vez e vimos corridas lindas, de tirar o fôlego. E este, então, pode ser o assunto inicial de nosso balanço da 1ª fase do Campeonato Brasileiro de Kart 2011.
Tradicionalmente a 1ª fase do Brasileiro leva até seu kartódromo sede os pilotos ainda em início de carreira, os da Mirim, Cadete, Super Cadete, Júnior Menor e Júnior, além da Novatos, que este ano disputará seu Brasileiro na semana que vem, durante a segunda fase. Aos pilotos destas categorias juntaram-se os da Sudam, Shifter e Super F4.
Vimos pilotos consagrados, portanto, como os multicampeões André Nicastro, Sérgio Jimenez, Felipe Fraga, Dennis Dirani, Danilo Dirani, dentre outros, e desculpem se esqueci de alguns. E vimos, por isso, disputas de “gente grande”, de quem sabe preparar uma ultrapassagem e fazê-la no mais alto estilo.
Mas vimos também pilotos, muitos deles em início de carreira, dando show nas categorias ditas menores. Disputas empolgantes, vistas na Sudam, por exemplo, também puderam ser vistas na Cadete, Júnior Menor e Júnior, principalmente. Esta renovação, que a duras penas parece acontecer a cada ano, graças aos esforços principalmente dos pais dos pilotos, é – talvez – o principal ponto positivo desta primeira fase do Brasileiro 2011.
FATO NEGATIVO – Mas, ao mesmo tempo em que vimos grandes “pequenos” pilotos tendo atuações bárbaras, vimos também alguns tomando atitudes antidesportivas, atitudes que não deveriam ser tomadas por nenhum piloto, ainda mais estes que vivem momentos de formação de sua conduta dentro das pistas. Inibir é importante, enquanto ainda é tempo e enquanto os ensinamentos ainda entram fácil em suas cabecinhas.
FATOS NEGATIVOS – É nossa opinião já há muitos anos – reforçada ainda mais depois do fracasso do Brasileiro de Goiânia em 2009 – que um Campeonato Brasileiro, O MAIS IMPORTANTE EVENTO DO NOSSO ESPORTE, deve ser SEMPRE disputado nos melhores kartódromos, privilegiando aqueles que são os verdadeiros donos do espetáculo, OS PILOTOS. Ponto. (Ih, já estou eu escrevendo aquela frase que alguns dirigentes do nosso automobilismo não gostam de ler).
Interlagos, ainda que não possa ser comparado ao quase inútil Kartódromo de Goiânia de 2009, não oferece condições para receber mais de 200 pilotos em qualquer evento que seja. Sagrado, lendário, templo. Sim, Interlagos é tudo isso e sentar naquelas arquibancadas e imaginar que por ali passaram TODOS os grandes nomes de nosso automobilismo moderno é, sim, de arrepiar. Fiquei sentado ali por muitas horas durante esta semana, “vendo” nossos nomes históricos correndo de kart. Mas não podemos viver de um passado glorioso.
Talvez se os R$ 840 mil que disseram ter investido nas reformas tivessem realmente sido investidos no kartódromo, teríamos tido uma praça em condições condizentes com as necessárias para um Brasileiro. Notem bem, com R$ 840 mil é possível construir praticamente um kartódromo novo. Não haverá algo errado neste número? Será que não foi R$ 84 mil?
Torre de cronometragem? Não, aquilo não era uma torre de cronometragem. Aquilo era uma vergonha, isso sim, e se eu fosse o responsável pela equipe de cronometragem teria dito aos dirigentes: “fui, arrumem outra equipe para trabalhar, respeito é bom e eu gosto”. Quem pensou naquela torre ainda foi bafejado pela sorte: não choveu e aquela barraquinha azul salvou os meninos da Cronoelo de torrar no sol. Ainda bem que o Brasileiro é no inverno, já pensaram se acontecesse em janeiro?
Parque Fechado? Que parque fechado era esse que quase todos que queriam entrar, entravam? Onde alguns mecânicos andavam com pesos nos bolsos e nos carrinhos e os utilizavam para “colocar seus pilotos dentro do regulamento”. Parque Fechado precisa ser fechado, e os seguranças precisam efetivamente verificar se a pessoa que vai entrar está credenciada para isto. Parque Fechado não é lugar para pais e mães assistirem os treinos e até mesmo corridas de seus filhos em lugar privilegiado. Para isto existem as arquibancadas.
Um copo de 500 ml com alguns pedaços de fruta e uma água: R$ 11. Porque será que as lanchonetes espalhadas pelos kartódromos do Brasil pensam que todas as pessoas que estão na pista são milionárias? E isto vale para as lanchonetes terceirizadas e as que são exploradas pelos kartódromos. Alguns dirão: se você está chorando por esta “merreca” não vá ao kartódromo. Não será isto que poderá acontecer um dia em razão dos altos preços praticados com todos os produtos hoje em dia no kartismo?
Bem, não foi à toa que a CBA aplicou uma multa de 220 UP´s (Unidade Penalizadora) à FASP, um valor total de R$ 44 mil (veja o documento oficial). Alguns destes itens de que reclamo estavam previstos no Caderno de Encargos do Campeonato Brasileiro, que cada Federação recebe e assina quando se propõe a realizar o nacional. E, por isto, foram reclamados à FASP pela CBA. Como estavam em desacordo, a FASP foi multada. Justo? Injusto? Não sei, o que sei é que itens importantes não podem ser negligenciados.
E, por falar em CBA, a ela cabe pelo menos um fato negativo, já que – segundo Rubens Gatti – a falta de uma boa estrutura atrapalhou os trabalhos da Confederação, uma vez que grande parte das atenções teve que ser destinada às obras e assuntos afins. O assunto já foi alvo de matéria publicada antes do Campeonato Brasileiro, mas nunca é demais bater-se nesta tecla. Foram muitas as atitudes antidesportivas em São Paulo, algumas ou várias delas punidas. Outras não, outras passaram “batido” e isto não pode acontecer. Do alto da arquibancada – estaria eu em um ponto mais privilegiado? – vi muitas cenas antidesportivas e sei que nem todas foram punidas de acordo. Sou do tempo em que ao Comissário Desportivo bastava ver a cena ao vivo para pedir uma bandeira de advertência ou preta. Não era necessário entrar com um protesto para que se tomasse tal atitude. Não se vê tudo, assim como no futebol? Concordo. Mas investir R$ 20 mil, R$ 30 mil, R$ 40 mil para correr um Brasileiro, ser tirado fora da prova por um piloto antidesportivo e ninguém ver, “não tem preço”. Mais olhos veem mais, então, em um Brasileiro, mais Comissários Desportivos devem estar na pista.
Bem, isto – as atitudes antidesportivas mal punidas – já gerou duas atitudes mais enérgicas da CNK para a segunda fase, que começa na próxima segunda em Minas Gerais. A primeira é que serão cinco Comissários Desportivos na pista: Alexandre Lagana, Antônio dos Santos (o Toninho), Bento Tino, Gilberto Elger e Luiz Mann. Bruno Barônio, comissário em Interlagos, será o Diretor de Prova, uma inversão com Luiz Mann, que dirigiu em São Paulo, já prevista antes. Hoje Rubens Gatti, presidente da CNK, me informou que contratou uma equipe de filmagem, com quatro câmeras, para atuar no RBC Racing. Esta equipe será a oficial do evento e os Comissários Desportivos terão à sua disposição imagens oficiais para analisar os incidentes de pista.
Bem, o Brasileiro de Interlagos não foi 8 nem 80, ficou no meio. E nosso balanço, que em Goiânia mereceu sete páginas, precisou de um pouquinho mais que duas páginas. Em Minas Gerais, com uma estrutura digna de nossos pilotos – e pais, que investem muito dinheiro – certamente teremos um Brasileiro mais que 80, próximo dos 100. Faltará apenas os Comissários Desportivos serem (ainda) mais enérgicos. Sejam, e teremos um Brasileiro 100.