Na última semana todos vivenciamos a segunda fase do Campeonato Brasileiro de Kart, edição 2011, uma fase diametralmente oposta à primeira. Naquela, disputada em Interlagos, poucos foram os pontos positivos, ao contrário da segunda, disputada no RBC Racing, em Minas Gerais. Na terra de Rafael Cançado e Pedro Sereno tivemos um Brasileiro quase perfeito, até mesmo porque no Brasil dificilmente teremos uma corrida de kart organizada à perfeição.
Em Minas os pontos positivos suplantaram – em muito – os negativos. E, resumindo, se São Paulo recebeu – de forma merecida, a julgar pela concordância de quase todos – mais críticas que elogios, a situação se inverterá nesta análise que você lerá a partir de agora sobre o Brasileiro de Minas Gerais.
PONTOS POSITIVOS – Quase tudo funcionou muito bem no RBC Racing, tanto no que diz respeito à estrutura oferecida quanto no que se trata da parte organizacional, esta dividida entre a Federação Mineira de Automobilismo e a Confederação Brasileira de Automobilismo.
O Parque Fechado, desta vez, estava bastante bem organizado, com sua entrada e saída bem definidas. Não era tão fácil assim entrar lá sem credencial e apenas quem realmente estava trabalhando tinha direito de nele permanecer. Diante do que foi possível observar durante meu pequeno tempo disponível para isso – e ainda que algumas pequenas reclamações fossem ouvidas – nada vimos de errado no funcionamento do Parque Fechado.
Alvos de muitas reclamações em Interlagos, inclusive minhas, os Comissários Desportivos atuaram de uma forma muito mais enérgica e rigorosa em Minas Gerais, punindo com vigor as atitudes antidesportivas mais fortes. Duas desclassificações significativas foram aplicadas, a Renato Russo e a Cayan Chianca, e muitas foram as advertências, que, segundo um dos comissários, não significavam sempre o final de uma penalização. Significavam, quase sempre, que o piloto advertido estava sob investigação e que uma punição mais forte ainda poderia ser aplicada. E, em alguns casos, isto realmente aconteceu. Se antes criticados, agora os Comissários Desportivos merecem elogios.
Limpeza, ótimo acolhimento e um forte contingente de funcionários presentes e sempre solícitos foram fatores que fizeram com que a semana fosse bastante agradável no aspecto “extrapista”. É muito complicado a um competidor, sempre com a adrenalina em alta, chegar no balcão da lanchonete, por exemplo, e ser recebido por uma pessoa de mau humor. E isso, efetivamente, não se via no RBC Racing. Sorrisos disponíveis e em larga quantidade, era o que tínhamos.
Quase 200 pilotos na pista só poderia se transformar em um espetáculo, mesmo que alguns afoitos, que pensavam que passar em primeiro na primeira curva da primeira classificatória já daria o título mesmo largando de 15º (por exemplo), manchassem um pouco esse brilho. Vimos disputas fantásticas em todas as categorias, protagonizadas por pilotos experientes, como os da Sênior A e Graduados, e por outros nem tanto e que não se preocuparam se eram experientes: quase todos “apenas” deram lindos espetáculos durante quase todo o Brasileiro, mesmo na Novatos e Sênior B, sempre categorias destinadas aos... novatos!
A sala de imprensa foi outro setor deste Brasileiro – e do RBC Racing – que funcionou muito bem. Coordenada a “seis mãos” pelos competentes Flávio Quick e Fabíola Cadar (responsáveis pela assessoria de imprensa do kartódromo) e pelo não menos capaz Wagner Gonzalez, assessor de imprensa da CBA, a imprensa especializada foi muito bem atendida e teve a seu dispor as melhores condições de trabalho.
Fechando os positivos, pode-se dizer que a perfeita estrutura do RBC Racing ajudou também o trabalho da CNK, que desta vez pôde preocupar-se apenas com o andamento do evento. Não foi necessário a Rubens Gatti ter que perder seu tempo com remanejamento de parque fechado, ou com arrumar uma barraca para melhor acomodar a cronometragem, por exemplo. Um Brasileiro “tocado” pelos dois últimos presidentes da CNK (Gatti e Pedro Sereno) só poderia ter saído praticamente perfeito.
PONTOS NEGATIVOS – Ainda que poucos, os pontos negativos necessitam de mais “linhas” em nossa análise e parecem em maior quantidade que os positivos. Os fatos negativos atrapalharam em alguns momentos, e um deles deixou muitos que estavam no kartódromo preocupados com o que poderia acontecer caso um acidente mais grave tivesse se efetivado.
O pior ponto negativo – aquele que por pouco não acabou com todo o brilho do evento – foi a parte médica, de responsabilidade da FMA e RBC. Os "profissionais” que atuaram na corrida, sei lá, pareciam estar em outro mundo, ou em uma nave espacial, onde não temos gravidade e tudo flutua. Lentos, em dois momentos importantes, quando pilotos precisaram de atendimento médico, onde estavam eles? Vinham... pasmem, caminhando, sem pressa, vaiados pelos presentes no kartódromo, ao contrário – agora sim – do que se viu em Interlagos, onde a equipe comandada pelo Dr. Wagner deu verdadeiro show. O médico da prova em Minas Gerais – quem? desculpem, não me dei o trabalho de saber o nome de tão “diligente profissional” – teve o peito de dizer a um integrante da CBA que se ele não fosse bom o suficiente não seria médico da Stock Car. A qual Stock Car ele se referia? Deve ser do jogo de videogame que a categoria acaba de lançar. Para amenizar um pouco, mais de uma pessoa, “da casa” e de confiança, nos garantiu que estas mesmas pessoas trabalham de forma muito competente nas outras corridas do RBC e que não conseguiam entender a razão do péssimo atendimento no Brasileiro.
Seguindo – e a partir de agora não tão ácido, porque o pior já ficou para trás –, outro ponto negativo que gostaríamos de destacar foi a programação. De responsabilidade da FMA, segundo informado pela CBA, foi lenta e em alguns longos momentos fez com que todas as atividades de pista cessassem no kartódromo, desnecessariamente. Já faz tempo que cada piloto, preparador, pai e mãe e espectador faz seu horário de almoço. Não seria mais fácil eliminar o horário de almoço, por exemplo? Ao pessoal de pista e àqueles que não param, entregar um lanche ou uma refeição para ser consumida em um breve intervalo já seria suficiente.
Alguns reclamaram das acomodações nos boxes, e eles realmente estavam apertados, além de algumas equipes terem ficado longe das principais atividades. Isto poderia, talvez, ter sido um ponto negativo, mas não podemos esquecer que qualquer kartódromo no Brasil – exceção feita ao Raceland e, quem sabe, ao Velopark – não tem estrutura pronta e acabada para receber 200 pilotos. E porque teriam, uma vez que eventos como este acontecem uma vez a cada cinco anos em suas sedes? Com estrutura para tantos pilotos talvez já tivessem virado um “elefante branco”.
Um item fez falta no RBC Racing, um restaurante. Apenas lanches não são suficientes para quem vive intensas atividades durante o dia, como pilotos e mecânicos. Porém, segundo apuramos, era possível disponibilizar apenas a lanchonete, já que a estrutura exigida para um restaurante demandaria algo bem mais complicado e de difícil efetivação. Bem, ninguém morreu de fome, pelo contrário, boas opções – ainda que não fossem um bom almoço – foram oferecidas.
Por fim, outro ponto crítico, que perde apenas para o “atendimento” médico. Pode um piloto da Graduados bater em um Novato e tirar o título deste Novato, se os dois são de categorias diferentes? No Brasil pode. A CBA – e agora a responsabilidade é dela como entidade – não conseguiu entregar ao piloto Cayan Chianca, um graduado, a Cédula Desportiva correta, aquela que foi solicitada pela Federação Pernambucana. Lucas Biagioni, inconformado por ter Chianca disputando o Brasileiro em sua categoria, a Novatos, entrou com um protesto contra o pernambucano, protesto este indeferido corretamente pelos Comissários Desportivos, uma vez que não era de sua alçada o assunto. Um pedido de liminar foi encaminhado ao STJD da CBA, que por sua vez igualmente o indeferiu, por falta de provas, e Chianca disputou o Brasileiro pela Novatos.
Restava aos Comissários um pedido aos deuses para que Chianca não fosse campeão e certamente eles o fizeram, para não serem erradamente considerados culpados por este erro – é preciso salientar que nem todos os erros em uma prova são de responsabilidade dos Comissários Desportivos. Os deuses, no entanto, não deram ouvidos a eles e, pior do que ser campeão, Chianca – que deveria junto com seu pai ter solicitado a carteira correta, que eles bem sabiam qual era – acabou por bater, ainda que possa ter sido de forma despropositada, no líder da corrida e virtual campeão, nada mais nada menos que o próprio Biagioni, que assim perdeu o título. Chianca também não foi campeão, já que não deu tempo nem de subir na camionete: ele foi desclassificado pelos Comissários Desportivos por atitude antidesportiva. E assim está contada a história de como um Graduado pode tirar o título de um Novato.
Bem, é isso. Pontos positivos servem para ser exaltados. Aos organizadores bem sabemos que elogios ajudam, mas eles não aprendem nada com eles, pois, por óbvio, se os pontos já são positivos é porque foram bem feitos. A crítica aos pontos negativos, quando bem assimiladas e feitas com isenção e respeito, é que farão com que as próximas provas sejam ainda melhores. É o que esperamos ter ajudado a construir.