O esporte além de incitar a competição entre pessoas e equipes, promove a formação do caráter das crianças e jovens, que aprendem com disciplina e treinamento, a idéia de trabalhar com inteligência emocional, a ser competitivo, ganhando velocidade de decisões, autocontrole e até resistência, enfrentando desafios.
Nesta semana vimos em São Paulo 203 competidores participando do Campeonato Brasileiro de Kart, que acontece até sábado (16/07) no Kartódromo Ayrton Senna, em Interlagos, zona sul da capital. E somente oito deles sairão sorridentes com a glória de ter conquistado o título de campeão nas categorias Mirim, Cadete, Super Cadete, Júnior Menor, Júnior, Super F4, Sudam e Shifter.
A grande maioria destas crianças e jovens voltará para casa, mais cedo ou mais tarde, sem nenhum troféu ou medalha. E sairão precisando superar frustrações, administrar possíveis conflitos e controlar mecanismos de perda. Podemos ilustrar com o caso do garoto Enzo Gianfratti (TNT Energy Team), de apenas oito anos de idade, que apesar de estar muito bem cotado na categoria de aprendizado Cadete, logo no primeiro dia de competições foi alijado por um problema mecânico.
"Estamos em um esporte a motor. Ou seja, não basta o talento do piloto. Ele conduz uma máquina suscetível à quebra. E foi o que aconteceu", comentou Daniel Gianfratti, experiente piloto de protótipos e Fórmula Truck, consolando o seu filho.
Para participar de um campeonato como o Brasileiro de Kart, que é realizado em apenas um final de semana por ano, o pai de um piloto chega a investir em torno de R$ 10 mil, e às vezes por tão pouco, é impossibilitado de continuar. Enzo enfrentou essa barreira logo no início das competições. A chaveta da coroa de transmissão - peça que custa em média 50 centavos de real - quebrou, impedindo o pequeno piloto de passar para as fases seguintes.
"Estou triste com o que aconteceu. Eu me preparei muito para esse campeonato. Estava no meio da corrida e meu kart parou do nada. Foi difícil de acreditar na hora que percebi que não ia poder voltar pra pista", lamenta Enzo Gianfratti, claramente decepcionado com o ocorrido.
Para o experiente pai, problemas mecânicos sempre podem surgir. "Esse é o tipo de coisa que acontece. É um problema mecânico e não há o que fazer. Vamos sair daqui mais fortes do que chegamos", relata resignado, e completa. "É claro que é uma situação difícil, pois nos preparamos e investimos muito, e por quase nada, estamos fora do campeonato".
Daniel ainda destaca que situações como essa servem de aprendizado para as crianças e jovens pilotos. "Acontecimentos como esse fazem as pessoas amadurecerem. Tenho certeza que meu filho vai refletir e aprender com tudo isso. Agora é hora de levantar a cabeça e seguir em frente. O esporte serve pra isso, preparar essa garotada para transformar as dificuldades e crises em desafios e oportunidades. Tempos difíceis devem ser enfrentados com serenidade e muito preparo. A moral, se mal cuidada pode nos derrubar, mas se estiver polida, pode ser a diferença para nos levar depois ao pódio", ensina.
"Riscos podem e muitas vezes precisam ser enfrentados. Para isso, é necessário ter confiança, minimizando adversidades e controlando suas conseqüências. Sei que meu filho vai ter determinação para persistir, corrigir o rumo, superar estes obstáculos e continuar buscando atingir o seu objetivo", completou Gianfratti.
O experiente chefe da TNT Energy Team, Ricardo Seratta também expressou seu desapontamento. "Estávamos confiantes na classificação para a final, mas a quebra desta pequenina peça, que é super resistente, nos tirou do campeonato. Estamos chateados, pois trabalhamos duro para chegar aqui. É muita preparação e dedicação da equipe, mas vamos levantar a cabeça e seguir em frente", declarou após entrar nos boxes empurrando o kart 19 de Enzo Gianfratti.