A 2ª fase do Brasileiro, marcada de forma extremamente negativa pelas más condições do asfalto, entrará para a história do campeonato – pelo menos no tempo em que atuo nele, desde 1996 – como o maior fiasco de todos os tempos. Superior a grande bagunça que foi Goiânia 2009, esta fase tem como fato marcante o rápido desgaste do asfalto em poucas horas de treino. E todos sabem o desenlace de tudo isso: um dia e meio de paralisação nos treinos e uma indignação geral de pilotos, pais, preparadores, chefes de equipe, fabricantes e imprensa.
Mas a 2ª fase do Brasileiro ficará marcada também como a melhor oportunidade – o chamado “com a faca e o queijo na mão” – de todos os tempos de os pilotos capitalizarem esta indignação e transformá-la em respeito, o respeito que a CBA deveria ter com os donos do espetáculo.
Indignações demonstradas de todas as formas, à flor da pele, em reclamações diretas à Rubens Gatti, presidente da CNK – cuja única culpa é ter aceitado a determinação de fazer um Brasileiro onde não deveria ter sido feito –, reuniões e sei lá o que mais, resultaram em apenas uma coisa: aceitar o que foi entregue depois dos reparos na pista, entrar na pista e esquecer o que aconteceu. Não deveriam nem ter esperado o reparo, deveriam ter pegado suas malas e seus karts e irem direto para o aeroporto. Ou mais: não deveriam nem ter ido para o Brasileiro, pois as más condições já eram sabidas, graças a fotos e vídeos postados nas mídias sociais. O investimento financeiro de todos os pilotos foi muito alto para que aceitassem as “migalhas”.
Assim teriam imposto a “dura realidade” para a CBA: “quem paga a conta somos nós e sem pilotos não tem corrida e não tem dinheiro”.
E assim teriam o direito de reclamar sempre daqui para frente, calçados na grande representatividade de seu ato de desistir da competição. Seria o velho “tapa de luva”, seria finalmente tirar de pais, pilotos e equipes aquele velho nariz redondo e vermelho.
Entretanto, encerradas as reformas e consertos e entregue a pista, esqueceram-se rapidamente do fiasco por que passaram nos dois dias anteriores e, mais uma vez, se submeteram a uma decisão equivocada da CBA.
Um parêntese: quero ressaltar aqui, porém, algo positivo neste fiasco histórico, que foi o empenho de Rubens Gatti em administrar a crise que lhe impuseram. De certa forma de mãos atadas na decisão de ter-se o Brasileiro no Ceará, “arregaçou” as mangas, por assim dizer, e conseguiu contornar o problema, ainda que eu discorde da concordância dos pilotos em permanecer. Palmas aos Comissários Desportivos – e todos os integrantes do grupo que de alguma forma conduziu o evento –, que trabalharam forte, literalmente com a “mão na massa” para consertar a pista. Foram todos eles xingados de várias formas, sem terem a mínima culpa, e serviram de para-raios.
Voltando... Sim, sim, há que se levar em consideração que muito dinheiro foi investido, começando por passagens de avião e hospedagem e terminando por novos chassis, motores, etc, etc, etc, etc, e que existem muitos interesses envolvidos. E tem que se entender isto, e eu entendo, pois também gastei para ir até o Ceará, e gastei, na proporção de nossos rendimentos financeiros mensais, mais do que muitos kartistas gastaram. Mas não aceito, e entendo que nenhum interesse – financeiro ou o que seja – é maior do que aproveitar para acabar de uma vez por todas esta falta de respeito com os pilotos.
Bem, meus amigos, minha conclusão é simples: este é o nosso kartismo, nosso kartismo no Brasil. E pelo jeito o querem assim. E assim o terão, porque como todo brasileiro, nossos pilotos e seus pais têm memória fraca e, nos próximos anos, quando a CBA marcar um Brasileiro para um local inadequado, todos irão até lá, felizes e serelepes. Como têm feito há anos.
Mas, há uma chance de tudo não virar em pizza e de termos o que comemorar ao fim de tudo: já está decidido que sete kartódromos receberão o Brasileiro daqui por diante e nenhum outro, a não ser que inaugurem-se novos, de qualidade, ou que algum deles saia da lista por uma razão ou outra. E, mais do que isso, a promessa de Cleyton Pinteiro, presidente da CBA, lá no kartódromo: “isso nunca mais acontecerá”. Pilotos e seus pais: não repitam anos anteriores – já esqueceram de Goiânia 2009, não? –, quando promessas semelhantes foram feitas e pilotos e seus pais simplesmente estiveram mais uma vez disputando um Brasileiro em situação precária, agora em Fortaleza 2013. Anotem. E cobrem.
O penúltimo recado – que tenho passado há muito tempo: no dia em que uma pista sede de Brasileiro estiver vazia, vazia mesmo, a partir do primeiro dia de inscrições antecipadas e primeiro dia de treinos e assim permanecer até o sábado decisivo, é possível que a CBA mude seus pensamentos e passe a respeitar os que pagam a conta. É possível, mas talvez nem assim... Quando não existirem pilotos, não haverá automobilismo para administrar. E esta possibilidade existe, seja por decisão dos pilotos – que podem um dia abrir os olhos –, seja por “opção” da CBA.
O último recado: cheguei a pensar em desistir, em não escrever este artigo, em parar de reclamar, pois em razão do “conformismo” visto no Ceará achei que não havia necessidade. Afinal me pareceu que para pais e pilotos tudo estava ótimo. Afirmo e recomendo: não esperem que a imprensa resolva os problemas. Não adianta passar na sala de imprensa e pedir que se escreva, que se reclame, que se denuncie. Sem a atitude firme dos principais interessados – vocês, pais e pilotos – não haverá no que a imprensa ajudar.
Vejam a pista em que vocês correram e lembrem-se do bordão "não é apenas pelos 0,20 centavos".