Desde o primeiro treino livre no Kartódromo Ricardo Santos, em Goiânia (GO) ficou claro que o kartista paulista Gregory Diegues (Despachante Monte Carlo/ Bad Boy/ Hinkel/ Banco Rendimento/ Camargo Racing) seria um dos favoritos ao título máximo da categoria Mirim na 44ª edição do Campeonato Brasileiro de Kart. Gregory completava cada uma das praticas entre os três primeiros de sua classe.
Para a edição de 2009 – realizada entre os dias 7 e 11/07 -, justamente a que historicamente mais concorrentes reuniu nessa categoria-escola - reservada aos pilotos com idade entre seis e oito anos -, com nada menos que vinte inscritos, a Confederação Brasileira de Automobilismo modificou o formato desportivo do certame, que ao invés de seguir os ditames do Regulamento Nacional de Kart (RNK), passou a adotar o critério CIK/FIA, o mesmo utilizado no Campeonato Mundial de Kart. Na pratica, a modificação normativa significava que o Campeão Brasileiro de cada categoria em disputa não seria conhecido através do habitual sistema de soma dos pontos obtidos nas quatro baterias do certame, com um descarte obrigatório e “peso” 1,5 na prova final, mas sim através de duas provas classificatórias, cujos resultados definiriam o grid da uma prova Préfinal que definiria, pela ordem de chegada, a grelha de partida da grande Final, que cristalizaria em seu vencedor o Campeão Brasileiro de Kart.
Para Gregory Diegues essa modificação regulamentar implicava em alterar suas características de pilotagem. Reconhecidamente muito veloz e extremamente regular, fatores que lhe permitiriam chegar ao final do certame com uma boa somatória de pontos conquistados, Gregory teria de ser, também, mais agressivo nas provas finais, deixando um pouco de lado sua característica de conduzir sempre com “fair-play” e evitar toques com os outros concorrentes.
Na tomada de tempos classificatórios, que determinou a ordem de largada em ambas baterias classificatórias, Gregory Diegues cravou sua melhor passagem com a marca de 47s927, que lhe garantiu o direito de largar na pole position, entre os vinte melhores pilotos do Brasil.
Na manhã seguinte a primeira bateria classificatória. Autorizada a largada, Gregory Diegues manteve a ponta, mas o segundo colocado “dividiu” agressivamente a tomada da primeira curva do circuito e os bólidos se tocaram, fazendo com que o kart de Diegues saísse da variante com menor aceleração e sendo superado por Igor Melo, que partira na terceira posição. Duas volta depois Gregory recuperou a posição, assumindo a liderança da corrida, agora com seu companheiro de equipe João Pedro Guim em segundo. Diegues, Guim, Melo e Victor Uchoa formaram um compacto pelotão dianteiro e logo conseguiram distanciar-se dos demais concorrentes, mas o combate era franco entre o quarteto e cinco voltas depois Guim conseguiu assumir a dianteira, com Gregory em segundo. Duas voltas depois Gregory deu o troco, fazendo a ultrapassagem “por fora” na velocíssima Curva 2 do traçado goiano e trazendo consigo Igor Melo, que assumiu o segundo posto. Mais três voltas e Guim conseguiu superar Melo e na mesma curva ultrapassar novamente o líder da competição e, na curva seguinte, Igor Melo também consegui ultrapassar Gregory, que passou a lutar com Uchoa pelo terceiro posto. Restavam duas voltas e atrapalhado por concorrentes retardatários, Diegues perdeu também a terceira posição para Uchoa, caindo para a quarta posição e, pior, perdendo o contato direto com os lideres. Sem tempo para recuperação, Gregory Diegues completou na quarta colocação a primeira bateria classificatória.
Horas depois, no escaldante calor da região centro-oeste, foi autorizada a partida da segunda prova classificatória. Novamente na pole position, Gregory Diegues conseguiu desvencilhar-se do ataque de Uchoa na primeira curva, mantendo a dianteira da corrida. Mesmo pressionado por Heitor Murara, João Guim, Raikkönen Sakzenian e Sinder Bitton Neto, Gregory conseguia manter a ponta da corrida, mas restando apenas uma volta para a apresentação da bandeira a quadros, Raikkönen Sakzenian – então segundo colocado – errou feio em um veloz “S” de alta, atropelando a zebra, saindo pela grama e entrando na pista novamente do outro lado da grama e acertando “a meia nau” o kart de Gregory Diegues. Com o forte impacto ambos foram atirados para fora pista até atingirem o barranco no final da área de escape. Sinder Bitton Neto levou a vitória, que era certa de Gregory Diegues, que ainda conseguiu voltar para a pista e cruzar a linha final na 15ª colocação, “espumando” de raiva pela batida.
Feitos os cálculos dos pontos perdidos nas duas provas classificatórias, Gregory Diegues (Despachante Monte Carlo/ Bad Boy/ Hinkel/ Banco Rendimento/ Camargo Racing) ficou com a sexta posição do partidor da bateria Préfinal para a manhã seguinte, posto ainda próximo aos ponteiros, mas que implicaria, mais ainda, em ter de alterar suas características de pilotagem sempre limpa, com absoluto “fair-play”, para chegar em uma posição que lhe permitisse chegar à Final com chances reais de luta pelo título.
Na tumultuada largada, Gregory Diegues conseguiu pular para a quinta posição, mas ao final da primeira volta já ultrapassara Heitor Murara, assumindo a quarta colocação. Na volta seguinte já era o terceiro e, com forte ritmo, buscava alcançar João Guim e Igor Melo, que ocupavam as duas primeiras posições. Outra volta e já estava “colado” nos lideres, entrando definitivamente na briga pela vitória. Duas voltas adiante Gregory ultrapassou Melo e entrou na reta principal ladeando seu companheiro de equipe João Guim. Os bólidos desceram a reta velozmente, Guim por fora e Diegues pela linha interna, ambos adentrando na estreita Curva 1 lado a lado, o que era fisicamente impossível e tornava iminente a batida. Em fantástico “balé” ambos procuraram apertadamente a tangencia e, no escape, para não bater lateralmente com Gim, Gregory fez a mais espetacular manobra de todo o campeonato, levantando seu kart em duas rodas, controlando a capotagem, o pequeno espaço entre o companheiro/adversário e, de quebra, conquistando a primeira colocação. Publico e boxes foram ao delírio, entre gritos e aplausos.
Desconcentrado com a ultrapassagem, Guim perdeu ainda o segundo posto para Melo, mas quatro voltas depois recuperou a segunda posição e voltou a atacar Gregory, que seguia na dianteira ditando o ritmo da corrida. Mais três passagens e Guim ultrapassou Gregory Diegues, que na volta seguinte ultrapassou Gim de volta, que tentou dar o troco duas voltas adiante, no “S” da entrada da reta principal, mas perdendo o ponto da freada e seguindo reto em meio a uma nuvem de poeira. A disputa ficava, então, restrita a Gregory Diegues, Igor Melo e Nathan William, que aproveitaram o momento, para ultrapassarem Diegues, que caiu para a terceira colocação, posto em que recebeu a bandeira a quadros duas voltas depois.
Com a terceira colocação conquistada na Préfinal, Gregory Diegues partiu na bateria Final, a que materializaria o Campeão Brasileiro de Kart da categoria Mirim, abrindo a segunda fila do grid, na terceira posição.
Na largada da finalíssima Gregory Diegues surpreendeu o pole Melo, pulando para a primeira colocação ao final da reta de largada. Na terceira volta Igor ultrapassou Gregory, que passou a ser, também atacado por Yanni Fontana, o terceiro colocado. Quatro voltas mais tarde, Gregory conseguira livrar-se de Fontana e recuperava a dianteira da corrida, ultrapassando Igor Melo. Embora seguidos de perto por Fontana, Nathan William, João Victor Sá e João Victor Penna o duelo pela vitória e o título pareciam estar restritos a Gregory Diegues e Igor Melo, que mais duas passagens retomou a ponta da corrida de Gregory. Na volta seguinte Gregory voltou para a ponta e mais três a dianteira era novamente de Igor Melo. Simplesmente espetacular esse emocionante duelo, que transcorria sem o menor toque “habitual” entre os lideres, que esbanjavam habilidade e desportividade.
Duas voltas depois e a placa indicando que faltavam apenas duas voltas para acabar o 44º Campeonato Brasileiro de Kart era apresentada para Gregory Diegues, que voltara para a ponta da corrida. Na placa de uma volta o primeiro colocado era novamente Igor Melo, mas duas curvas depois Gregory Diegues voltava a ultrapassar o combativo competidor e ao primeiro posto. Menos de oitocentos metros de pista separavam Gregory Diegues da consagradora bandeirada final. O tempo pareceu parar e letargicamente tudo parecia transcorrer em “slow motion”, no quadro-a-quadro. Diegues na dianteira e Melo tentando descontar a diferença. Os micromonopostos já contornavam o “S” final que dava ingresso à reta principal e nos muros do boxes os semblantes tensamente cerrados começavam a transmutar-se em bocas abrindo para gritos de alegria. Os punhos cerrados pareciam puxar para cima os braços que se abriam em regojizo. O som dos motores desaparecera, trocado pelo surdo compasso dos corações que batiam cada vez mais fortes. O pequeno kart 1 abria a Reta de Chegada ao tempo em que a bandeira quadriculada subia nas mãos do Diretor de Provas e o tempo voltou a correr rapidamente. A bandeira a quadros, a bandeira de chegada, a bandeira consagradora do Campeão Brasileiro de Kart da categoria Mirim desceu reverentemente adiante do kart de Gregory Diegues (Despachante Monte Carlo/ Bad Boy/ Hinkel/ Banco Rendimento/ Camargo Racing), o novo Campeão Brasileiro de Kart.
“O Gregory agradece muito a Deus, que tem nos acompanhado em todas as competições e aos patrocinadores da Bad Boy que foi a primeira a nos apoiar, a Hinkel que acreditou em nosso trabalho, se juntando a nós desde o começo do ano e ao Banco Rendimento que chegou agora e também com muita energia positiva”, declarou, ainda emocionado, Mauricio Diegues, pai de Gregory Diegues ao final do dia de competições. “Mas, claro, tudo isso só foi possível pelo brilhante trabalho da nossa equipe, a Camargo Racing, chefiada pelo Evandro Camargo e pelo carinho do mecânico Guigo, que cuidou do kart sempre com muita competência”, concluiu Diegues Sr.