Pontos positivos, pontos negativos. Alguns – positivos ou negativos – serão citados aqui, outros, talvez esquecidos por mim e não menos importantes, serão lembrados pelos internautas em seus comentários. Mas quem esteve em Cascavel, na 2ª fase do Brasileiro, ficou contente com quase tudo o que viu dentro da pista, mas indignado com algumas coisas fora dela. Alguns chegaram a sugerir que o título desta matéria de avaliação deveria ser “do vinho para água”, em clara alusão ao que utilizei na que avaliou a 1ª fase, no Beto Carrero, “da água para o vinho”. Não sei se chega a tanto, mas chegaremos a uma conclusão no desenrolar desta matéria.
O que tem que ficar claro a todo organizador de qualquer corrida de kart é que a estrutura geral de um kartódromo tem que ser impecável, mais ainda quando o evento em questão é o Campeonato Brasileiro. Em reformas pelo menos desde março, o Kartódromo Delci Damian ficou longe do Beto Carrero, por razões óbvias, já que o poder financeiro do parque catarinense é muito maior do que o do clube cascavelense, ainda que fortemente apoiado pela prefeitura municipal. Mas, ainda assim podia ter sido bem melhor.
Alguns itens básicos ficaram para trás e o principal deles foi o estacionamento, fortemente prejudicado pelas chuvas, que, aliás, caíram sobre Cascavel durante o Sul-Brasileiro. Ou seja, já se sabia o que a chuva faria se caísse mais uma vez. E caiu, forte e intermitente. O estacionamento – pelo qual se pagava R$ 10,00 por dia – estava impraticável, já que a terra vermelha da região virou lama pura e não havia como não se sujar ao descer do carro em meio a tanta lama. Era difícil até conduzir o carro, pois em alguns lugares a dirigibilidade ficou prejudicada, o carro derrapava na lama. Nada que alguns muitos caminhões de brita não tivessem resolvido. Sairia caro? Sairia sim, mas o mais importante campeonato do kartismo brasileiro e seus participantes – aqueles que pagam a conta, é bom lembrar – merecem que se gaste dinheiro para oferecer a melhor estrutura possível.
O pai de um piloto, claramente irritado, mostrou um tênis – todo sujo – que havia comprado no centro da cidade. “Comprei este tênis vagabundo, paguei R$ 30,00. Depois jogo fora, mas pelo menos não perco o tênis bom que eu, desavisadamente, trouxe”.
O Parque Fechado – que receberá daqui a pouco seus merecidos elogios – ficou a desejar no quesito “cara crachá”. Nele entrava quem queria, e não era necessário ter credencial. Nos momentos em que eu estava nele, depois de uma atividade ou outra em que já era necessária a pesagem, por exemplo, os pilotos tinham livre acesso a seu mecânico e este poderia muito bem lhe passar algo que ajudasse a aumentar o peso. Mostrei isto a um oficial, que disse: “Tá uma zona”, conformado e sem ter o que fazer para resolver. Ao longo do tempo a situação foi se resolvendo, com o fechamento dos portões, mas nunca de uma forma totalmente satisfatória.
Com 215 pilotos, a quantidade de pessoas dentro de um kartódromo é enorme. E para atender a todas elas é necessária uma forte estrutura de alimentação, que em Cascavel também ficou a desejar. Como o kartódromo ficava perto de diversas opções de almoço, muitos saíram e foram comer em outro lugar, o que de certa forma “salvou o dia”. Um restaurante acanhado e duas ou três barracas de pastel e churrasquinho não teriam dado conta do recado se os kartistas não tivessem outras opções fora do kartódromo.
A parte médica, muito pouco exigida, não teve muitas oportunidades de mostrar sua qualidade, ainda bem. Mas, quando Renato Russo se machucou em um acidente, o pessoal responsável pela ambulância próxima ao local simplesmente quis se dirigir até ele, com o veículo, mesmo colocando em risco os pilotos, já que a Direção de Prova não havia solicitado sua presença e não havia paralisado a prova. Sempre é bom lembrar que quem faz o atendimento médico é o médico e não a ambulância. Bruno Barônio, desta vez Comissário Desportivo, se irritou demais com a atitude do condutor da ambulância, que, mesmo avisado por ele Bruno, fez questão de continuar. A questão se resolveu da forma que deveria, mas apenas com a intervenção de Barônio.
Muito do que ficou a desejar se deve a estrutura acanhada do kartódromo e disso o clube não pode ser culpado. É o que eles têm a oferecer, ponto. Os boxes, para 215 pilotos, foram poucos e vimos muitas barracas de equipes em locais “nada a ver”, até fora da área de boxes, como também aconteceu – em menor escala – no Beto Carrero. Beleza não é tudo, mas a parte traseira do paddock, aquela área de boxes construída, era muito feia, sinceramente não parecia que estávamos em um Brasileiro, ainda mais depois de termos vindo do Beto Carrero. E isto era algo que podia ter sido arrumado, bastava gastar um pouco. Agora, se a estrutura é acanhada e isso se pode perceber em uma primeira visita, precisamos ter o Brasileiro onde a estrutura não é acanhada, simples.
É o que nossos kartistas precisam, exigem – faz tempo – e devem ser atendidos. Temos apenas três, quatro, cinco ou seis kartódromos em nível europeu no Brasil? Sim, temos apenas estes. Então façamos as duas fases do Brasileiro nestas pistas, pronto. Ah, minha federação ou meu clube aqui em Pururuca da Serra quer receber um Brasileiro. Então construa um kartódromo no nível de um Beto Carrero, Velopark, Raceland – que infelizmente não é usado para quase nada –, ou MMoa e depois peça um Brasileiro. Antes disso, esqueça.
Vai chegar o momento em que, ou temos o Brasileiro apenas em pistas deste porte, ou teremos que dividir o Brasileiro em três fases ao invés de duas. O que vocês acham disso, seria legal termos o Brasileiro em três fases? Opine.
Outro fato negativo que vimos foi dentro da pista, talvez o único, ainda que em profusão. O que era aquele monte de atitudes antidesportivas – bem punidas, diga-se de passagem – que vimos em categorias top do kartismo nacional? Alguns pilotos esqueceram que o que valia mesmo era apenas a Final e na primeira curva da primeira classificatória já estavam fazendo “porcaria”. A pancadaria correu solta em alguns momentos e em algumas categorias, até mesmo dentro do Parque Fechado. Você acha que tem tanta razão, a ponto de agredir fisicamente um adversário? Então é simples, não agrida e vá atrás de imagens. Leve-as aos Comissários, que viam todas as que eram levadas até eles, e faça seu protesto formal, oficial. Se sua razão ficar comprovada você verá seu adversário sendo punido, exemplarmente como muitos foram durante o Brasileiro.
Bem, chega de críticas, já que no início citei que tínhamos tido pontos positivos em Cascavel. O primeiro que lembro é o Parque Fechado, criticado antes, elogiado agora. Amplo, foi ele – e sua organização em sua saída para a pista – quem permitiu que o cronograma de horários fosse cumprido quase sempre à risca. Bem construído e com suas duas divisões – chegada e saída – próximas, o trabalho de todos ficou facilitado, o que não aconteceu no Beto Carrero.
Vimos grandes corridas em Cascavel, protagonizadas por quase todos os pilotos que lá estiveram. Quando as atitudes antidesportivas ficaram de lado, vimos disputas de arrepiar, limpas – como sempre sonhamos e queremos – e que revelaram verdadeiros campeões. E, ainda que atitudes negativas tenham ocorrido, estas foram muito bem punidas pelos Comissários Desportivos, atuantes o tempo todo e sempre dispostos a ouvir sugestões e reclamações com a mesma educação. Vários pilotos foram atendidos, suas provas analisadas e diversas punições – justas – aplicadas ao longo do evento. Um pequeno senão, a largada de uma das provas da Sudam Júnior poderia ter sido adiada por alguns minutos, já que foi naquele momento que tivemos a maior chuva de toda a semana. Mas nada que comprometesse o trabalho de quem conduzia o Brasileiro.
Acredito que tenhamos todos sido muito bem recebidos em Cascavel, excetuando-se um ou outro fato mais truculento – desnecessários e reprováveis –, e as deficiências de estrutura buscaram ser compensadas com esta preocupação de atender bem a todos. “Se erramos, desculpem. Se acertamos, era nossa obrigação”, disse Oracildes Tavares, presidente do clube de Cascavel.
Os elogios ao que foi positivo se fazem necessários, as críticas ao que foi negativo também. Apenas assim, lambendo nossas feridas, é que teremos eventos melhores a cada ano. O Brasileiro 2012, em suas duas fases, recebeu mais de 400 pilotos. A fase de Cascavel teve 215 pilotos, número que há alguns anos atrás só era atingido quando somávamos as duas fases. Hoje temos esse número em apenas uma fase. É crescimento, é positivo, mas precisamos pensar em acomodar a todos, muito bem. Afinal, são esses mais de 400 pilotos que pagam a conta. E pagam caro.
Por fim, minhas críticas não são feitas para arrumar inimigos, muito menos busco ter amigos quando elogio. Busco aqui no Kart Motor um kartismo forte, organizado, bonito e justo com quem são os verdadeiros donos do espetáculo, os pilotos, seus pais e seus patrocinadores. Esses – e apenas esses – são meus objetivos a cada análise ou balanço de um grande evento. Que todos os Brasileiros sejam como foi no Beto Carrero e nunca como foi em Goiânia.