Preparado para lutar pelo titulo de campeão da categoria Cadete na 44ª edição do Campeonato Brasileiro de Kart, disputado entre os dias 7 e 11/7 no Kartódromo Ricardo Santos, em Goiânia (GO), o kartista paulista Giuliano Raucci (Refrigerantes Dolly/ ULV/ KartZoom) viu esvaírem-se suas chances por não contar com motores sorteados competitivos e pela falta de observância das regras de competição pelos Comissários Desportivos.
Com cerca de trinta dias de antecedência para a realização da primeira fase do Campeonato Brasileiro de Kart no circuito goiano, Giuliano Raucci e a equipe KartZoom - que lhe propiciou nada menos de seis títulos nacionais e regionais pela categoria Mirim na temporada de 2007 – deslocaram-se para o Kartódromo Ricardo Santos com o intuito de familiarizarem-se com o seletivo traçado e encontrar os melhores ajustes em seu bólido. Após dois dias de intensos testes e treinamentos, Raucci e seu veloz kart #25 já pareciam estar afinados por diapasão e tempos de voltas extremamente competitivas passavam a ser registrada pelos cronômetros, dando mostras que estava tudo pronto para sua quarta participação no certame máximo nacional.
Mas bastou o primeiro treino oficial, na tarde da terça-feira e já com seu kart equipado com o motor sorteado fornecido pelos organizadores, para o Dollynho perceber que seu desempenho era oito décimos de segundo por volta pior que o do kartista mais rápido dessa prática. O kart era o mesmo, o piloto era o mesmo e os ajustes eram os mesmos que propiciaram grande desempenho semanas antes. O único “ingrediente” diferente dessa “receita” era o propulsor sorteado, que nos trechos de reta e de alta velocidade do circuito não lhe permitiam acompanhar o ritmo dos demais concorrentes. Mesmo assim, por prudência e buscando não imputar ao propulsor sorteado a “culpa” pelo desempenho aquém das expectativas, a equipe KartZoom passou nos treinos seguintes a testar novos ajustes, novos eixos, mangas, calibragem de pneus, chassis e tudo mais que pudesse reduzir a imensa desvantagem de desempenho no cronômetro.
Não restou mais qualquer alternativa senão a de solicitar a troca do tísico propulsor e arcar com o ônus de perda de posições no grid de largada, ante a penalização expressa no regulamento. Último treino antes da tomada de tempos classificatórios e a nova unidade também se apresentou “manquinha”, impondo nova solicitação de troca, a conseqüente perda de mais posições na grelha para a primeira corrida e o “incômodo” de ter de partir para a pratica classificatória que definiria o grupo e a ordem de largada, sem conhecer o desempenho do novo motor em seu kart.
Duas tomadas de tempo, de dez minutos cada, definiriam a hora da verdade. Quem era realmente rápido e quem seria mero coadjuvante entre os 43 concorrentes inscritos na categoria Cadete. Com a marca de 46s619, conquistada em sua décima primeira passagem, Giuliano classificou seu micromonoposto para largar na 14ª posição do grid do Grupo C, mas ante a penalização de perda de cinco posições por troca dos motores “doentinhos”, Giuliano Raucci caiu para o 19º lugar e foi relocado para o Grupo A. Estava claro que a nova unidade motriz também não era competitiva e Giuliano teria de pilotar além do limite nos trechos sinuosos e de baixa velocidade do circuito, para compensar o fraco desempenho nas retas e na parte de alta velocidade do traçado goiano.
No dia seguinte, a sexta-feira, duas corridas classificatórias definiriam os 28 melhores, que seriam automaticamente classificados para disputar o titulo de Campeão Brasileiro nas provas Pré-Final e Final, já que nesta edição do certame nacional as corridas adotaram o critério CIK/FIA, ao invés do sistema contemplado pelo Regulamento Nacional de Kart (RNK).
As provas da sexta-feira – de todas as categorias – foram marcadas por múltiplos acidentes de largada, mas também pela rigidez dos Comissários Desportivos na observância das normas da desportividade. Experiente, Giuliano Raucci soube evitar os acidentes e com o “empurra-empurra” corretamente coibido pelos oficiais de prova conseguiu extrair o máximo de seu kart. Na primeira contenda, entre os grupos A e C, o Dollynho fez muitas ultrapassagens no miolo do circuito e completou a corrida na sétima posição. Na segunda prova, entre os grupos A e B, Giuliano voltou a brilhar, já que novamente partindo da 19ª posição da grelha repetiu o desempenho da primeira bateria classificatória, cruzando a linha final na oitava colocação.
Apesar da nítida falta de equalização entre os motores fornecidos para a categoria Cadete e de não ter contado em momento algum com uma unidade propulsora em seu kart que lhe permitisse ser competitivo, o piloto da equipe Refrigerantes Dolly/ ULV/ KartZoom havia superado as dificuldades e conseguido classificar entre o seleto grupo que disputaria o titulo no dia seguinte e, melhor ainda, largando na nona posição do grid da bateria Pré-Final.
Pré-Final e Final
Largando na nona posição e com amplas possibilidades de completar a corrida pré-final entre os seis primeiros, ainda na primeira curva do circuito Giuliano acabou recebendo um forte impacto na traseira de seu kart, do piloto João Vitor Branquinho, que por seu turno também havia recebido uma forte batida na traseira e havia sido “lançado” sem controle sobre o bólido de Raucci. Giuliano conseguiu controlar seu kart, enquanto Branquinho rodava perigosamente na entrada da variante e envolvendo-se em um dos múltiplos acidentes de largada na pista goiana.
Mesmo atrasado pela “panca” e ainda sofrendo os insolúveis problemas de falta de desempenho no motor de deu kart, Raucci conseguiu completar a primeira volta ocupando a décima colocação, colado no bólido de Matheus Olivério e logo à frente de Pedro Cardoso. Ao final das treze voltas de corrida, Raucci divisou a bandeira a quadros na décima segunda colocação, ainda com plenas condições de formar fila ao final da bateria final no sexteto do pódio.
Todavia, a correta rigidez dos Comissários Desportivos que pautou as provas do dia anterior com aplicação de bandeiras de advertências e corretas penalizações, foi abandonada no momento decisivo do certame. Toques intencionais e o eterno jogo de “empurra-empurra” passou a ser tolerado com vistas grossas. Giuliano largou bem, mantinha-se na intensa batalha do compacto segundo pelotão, mas os toques passaram a suceder com freqüência alarmante e em um desses toques visivelmente intencionais acabou sendo jogado para o final do pelotão. Com os concorrentes “de ponta” fazendo jogo de vácuo e “empurra-empurra”, Giuliano Raucci não teve como descontar a diferença, já que seu motor “asmático” não lhe permitia impor um ritmo de prova mais forte.
Giulliano Raucci (Refrigerantes Dolly/ ULV/ KartZoom) completou a Final do Campeonato Brasileiro de Kart na 27ª colocação, posto que não traduz – nem de longe – a qualidade de sua pilotagem e o desempenho que apresentou na pista de Goiânia. Raucci foi um bravo, levou “no braço’ um kart cristalinamente inferiorizado pela falta de competitividade dos três motores que recebeu ao longo da competição e, enquanto houve estrita observância das regras desportivas pelos Comissários Desportivos destacados para o evento, conseguiu mostrar que é um dos principais pilotos do Brasil em sua categoria, um guerreiro que sabe, como poucos, fazer de um azedo limão uma gostosa limonada.