O Portal Kart Motor conversou na manhã desta quarta-feira
(20) com Binho Carcasci, o novo presidente da Comissão Nacional de Kart (CNK),
sobre diversos assuntos que envolvem o nosso kartismo.
Confira a entrevista na íntegra:
Quem é Binho Carcasci, o novo presidente da CNK?
Sou um cara que gosta de kart, mas, acima de gostar de kart, eu gosto de
trabalhar em eventos, isso é o que me dá mais prazer, isso é o que me move. Por
isso fui tão feliz em realizar a Seletiva de Kart Petrobras por 20 anos.
A CNK será realmente uma comissão como diz o nome?
Vai ser uma comissão, aliás, já é uma comissão! Eu posso te adiantar,
ninguém sabe ainda, mas ela já está sendo formada. Já fazem parte dessa
comissão o Ricardo Molina, o Rodrigo Piquet e o Nil (Nilton Amaral, da equipe
New Racing) e possivelmente ela vai aumentar um pouquinho ainda, com mais uma
ou duas pessoas. Eu, de fato, quero ter uma comissão para poder discutir e
melhorar o kartismo. A ideia é que tenhamos uma pessoa com grande conhecimento
técnico, representante dos pilotos, representante das equipes, como é o caso
até aqui. A ideia é usarmos a experiência de cada um dos integrantes da
comissão para um kartismo ainda melhor.
Qual deve ser teu principal desafio como presidente da
CNK?
O maior desafio talvez seja fazer um kart para o Brasil inteiro, e isso
é bem difícil. São públicos e culturas diferentes em um país tão grande, mas
que, no fim das contas, quando tivermos um Brasileiro, possamos juntar todos.
Quais medidas tu pretende tomar para melhorar o kartismo
no Brasil?
Eu tenho uma tendência a pensar que o marketing ajuda muito, é mais a
minha especialidade. Então, trabalhar o marketing da categoria, eu acho que
pode ajudar. Porque, no fim, o que queremos é que tenhamos mais adeptos na modalidade.
Queremos mais gente andando de kart e eu acho que o marketing pode ajudar muito.
Mas o piloto tem que ter também um regulamento técnico que seja atraente. Precisa
das duas coisas juntas. Então, quando ele for atraído pelo marketing, terá que encontrar
um bom pacote técnico que o permita participar.
Como a CBA/CNK pensa em trabalhar para aumentar a
visibilidade do kartismo na mídia e em geral?
A CBA tem um departamento de planejamento e marketing, eu conheci a
pessoa responsável por essa área apenas na última segunda-feira. É tudo muito
novo, então eu ainda preciso entender isso tudo, mas o marketing é uma área
muito importante, que eu quero usar muito. Nos próximos meses teremos um plano
legal para divulgar.
Atualmente temos muitas categorias no Brasil e no último
Brasileiro, até mesmo por conta do Mundial, tivemos 22. Normalmente são 18. Não
é um número excessivo?
É muita categoria, concordo. Me incomoda um pouco essa quantidade de
categorias, especialmente aquelas que fazem os pilotos se repetirem. Se um piloto
tem a oportunidade de correr em quatro, cinco categorias, na minha opinião algo
não está indo bem. Quero discutir com todos para saber porque temos tantas
categorias. Uma das respostas é algo que falei no início, temos culturas
diferentes, uma categoria praticada no Nordeste pode não ser praticada no Sul. E
se não colocamos as duas categorias no Brasileiro, acabamos eliminando alguma. Temos
que dar chance pra todo mundo, mas abrir a possibilidade de que um mesmo piloto
dispute três, quatro categorias ou mais não é legal. Temos que ver quais e como
e pensar em diminuir este número de categorias.
As categorias Codasur e OK com motores sorteados
continuam?
O Giovanni Guerra, quando me convidou para assumir a CNK, me deu carta
branca, mas me disse que gostaria de seguir a linha da FIA, já que ele é muito
alinhado com o Felipe Massa, presidente da CIK e é o nosso delegado lá. Vamos
ver o que é possível e ver o que cabe em termos FIA no Brasil e no bolso dos
pilotos. Essa é a linha. Mas o que continua e o que acaba ainda vamos precisar
de uma ou duas semanas para decidir.
Existe a ideia de uma junção das categorias Júnior Menor
e Júnior e Sênior A e Sênior B?
Ainda não levantamos esse assunto, acabei de assumir, mas é uma boa discussão.
A Sênior A e B eu gostaria de ouvir os pilotos um pouco para saber a opinião
deles sobre isso. Júnior Menor e Júnior eu gosto de juntar, mas especialmente
os pais preferem separados. Eu entendo que quando um menino inexperiente, da
Júnior Menor, encontra um mais experiente, da Júnior, no mesmo lugar, na mesma
corrida, a tendência é de uma evolução maior e mais rápida. Na Europa é assim
desde sempre. Aqui no Brasil em algum momento separaram e isso acabou agradando
aos pais. Eles têm a visão de que a possibilidade de ter uma boa colocação, um
troféu, uma foto no pódio sirvam de estímulo e motivação para o garoto. Então,
temos que analisar os dois pontos de vista, discutir com eles também um
pouquinho. Mas vale muito a discussão.
Na contramão desta pergunta, existem vários pedidos para
que a CBA homologue a F4 Júnior em seus campeonatos nacionais. O que tu
pensa disso?
Gosto da ideia. Acho que tem que ter um caminho para os meninos da
Cadete, que correm com motores 4 tempos. Eles saem da categoria e não têm uma
opção para continuar com esse motor, só poderão encontrá-lo novamente na F4
Graduados. Vamos ver a melhor maneira de implantar isso.
Após a experiência do último Brasileiro e o recente
anúncio para 2021, quais as chances desta competição passar a acontecer definitivamente
em dezembro daqui pra frente? E o próximo Brasileiro está confirmado no RBC?
O próximo Brasileiro ainda não está confirmado para o RBC, a discussão
sobre a sede está acontecendo, mas ainda não posso adiantar nada. As chances de
continuar em dezembro existem. A pandemia nos forçou a mudar o calendário outra
vez, então jogamos a Copa Brasil para julho e o Brasileiro para dezembro. Eu
gosto do Brasileiro em dezembro, porque ele é no final da temporada. Um piloto
que saiu da Júnior Menor para a Júnior, por exemplo, tem o ano inteiro pra
andar na nova categoria e disputar o título brasileiro no final do ano, quando
já está totalmente adaptado. Temos a chance de fazer uma nova experiência em um
ano em que não temos outra saída a não ser essa e fazermos a Copa em julho e o
Brasileiro em dezembro. Se der certo, podemos seguir na mesma linha nos próximos anos.
Por que não cancelar a Copa Brasil 2020 e realizar a de
2021 em setembro ou na data de sempre, em outubro, como Open do Mundial?
Na verdade, a Copa Brasil 2020 já está cancelada e a de 2021 será esta,
que será disputada em Londrina em julho. O Open do Mundial deve existir, mas
isso está sendo discutido com a CIK/FIA e é possível que seja apenas com as
categorias do Mundial.
Os kartistas pedem muito uma diminuição de custos de inscrição
e combustível nos eventos nacionais. Quais seriam as ideias pra isso?
Preciso entender os custos do evento, porque eles são cobertos com duas
fontes de receita: inscrições e patrocinadores. Eu ainda não tive acesso às
planilhas de custo e por isso não posso explicar ainda porque os valores são
estes. Então eu não posso me aprofundar neste assunto agora. A receita da venda
do combustível também ajuda a cobrir os custos. Não quero justificar nenhum
valor, nem alto nem baixo, mas temos que entender que não há como comprar o
combustível no posto por 4 reais e vender pelo mesmo valor. Tem alguns custos
extras que acabam incrementando o valor, como o óleo dois tempos, o frete para
entrega do combustível, pessoas que vão manusear e entregar. Eu não sei se
passa pra 4,5 ou 5 reais ou 20, mas entendo que 20 seja um valor alto demais.
As categorias F4 têm mostrado muita força e apresentado
grids cheios nos eventos nacionais e também estaduais. Existem planos de
fortalecer/prestigiar estas categorias?
Elas são a base do nosso kart hoje, não dá pra negar. O kartismo é a categoria-escola
e a ideia de um kartista sair daqui para a Fórmula 1 permanece. Mas a F4 tem um
peso enorme no kartismo, é a quem tem o maior número de pilotos nos regionais e
estaduais e se destaca muito nos nacionais. Estão movimentando o mercado, porque
são grandes consumidores de tudo que envolve o kart e temos que dar grande atenção
para isso sem esquecer os 2 tempos.
As marcas de chassi importadas atualmente podem competir
apenas em determinadas categorias, não todas. Haverá a liberação para todas as
categorias?
Existe uma discussão pra isso, a comissão deve se reunir na semana que vem
e esse é um dos assuntos da pauta. Em princípio o que estou tentando fazer é honrar
o que foi acordado, porque as vezes você não acerta com uma empresa só, acerta
com cinco ou seis, como nesse caso. Então esse é um assunto que tem que ser bem
analisado.
E nas F4, o que tu pensa a respeito de liberar os chassis
importados?
Elas vão entrar nessa discussão, com certeza. O assunto entra na pauta,
vamos analisar, mas não acho que seja algo para 2021.
Haverá espaço na CNK para uma comissão de pilotos e suas
opiniões?
Eu sempre conversei com todo mundo, gosto de ouvir a opinião de todos e
discutir. Nossa comissão, como eu disse, está sendo montada e acho que o
Rodrigo Piquet pode fazer isso muito bem, já que ele é integrante também da
Comissão de Pilotos e Pais. Se for o caso, podemos ter esta comissão conosco,
mas tenho certeza de que ela está muito bem representada pelo Rodrigo. Aliás,
foi pensando nisso também que eu fiz o convite a ele.
Algumas conversas falam em uma melhor divisão por idade
nas categorias F4, uma vez que em 2020 a Sênior estava forte e a Graduados
fraca. E o mesmo se pode perguntar da Sênior, que atualmente começa com 28
anos. Isso faz com que alguns pilotos com mais de 25 anos andem de Novatos ou
Graduados por não poderem andar na Sênior. Como tu encara isso?
Obrigado por você estar me trazendo uma coisa nova, que eu realmente
ainda não conhecia. Fizemos uma alteração semelhante na Rotax Master buscando
algo assim. Se vamos deixar as categorias mais equilibradas neste sentido, vale
a discussão.
Como serão conhecidos os pilotos classificados para o
Sul-Americano, já que essa lista sairia da Copa Brasil, que acaba de ser adiada?
O Sul-Americano está sendo rediscutido pelo Giovanni com a Codasur (a
confederação sul-americana). Então ainda temos que esperar terminar essa
conversa para ver como fica. O presidente quer seguir a linha FIA e o
Sul-Americano não segue essa linha.
A CNK pensa em algo mais efetivo para a formação de novos
pilotos em cada Estado? Como estão as escolinhas de pilotagem?
Esse é um assunto que eu já quis ir atrás, mas ainda não consegui muitas
informações. Algumas escolinhas deixaram de existir, os karts estão parados,
são da CBA. Temos que dar atenção pra isso, é uma grande porta de entrada para
a garotada. Na Granja Viana eu sei que a escolinha está ativa e tem trazido
resultados, os meninos saem da escolinha – não sei em que quantidade – e estão
ingressando nos campeonatos de lá. Depois acabarão naturalmente indo para os
nacionais. Escolinha é fundamental, temos que dar atenção para isso.