Tendo em vista os últimos acontecimentos referentes ao propalado uso do espaço do Autódromo Internacional Nelson Piquet, no Rio de Janeiro, para o Pan 2007, o presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo, Paulo Scaglione, manifesta a sua preocupação, denuncia atitudes danosas do poder público em relação ao circuito carioca e ao automobilismo brasileiro, assim como anuncia medidas para a preservação da prática do automobilismo:
1 – Discrepância orçamentária
De modo global, o orçamento para o Pan 2007 vem sofrendo alterações significativas desde a escolha do Rio de Janeiro como sede para a competição. O mesmo ocorre em relação ao autódromo. Quando o Consórcio Rio Sport Plaza buscava recursos em empresas estatais, os valores giravam entre R$ 450 milhões e R$ 500 milhões. Entretanto, agora que a prefeitura do Rio lançou nova licitação e manifesta a intenção de assumir as obras (dependendo de empréstimo do Governo Federal), os valores caíram para cifras que – somados os módulos – atingem a casa do R$ 300 milhões:
2 – Abandono do autódromo
É inquestionável o premeditado abandono do Autódromo Internacional Nelson Piquet promovido pela Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro. Há de se lembrar que o autódromo ficou fechado durante vários meses na atual gestão e, inclusive, foi proibida a entrada de um comissário da FIA para vistoriar suas instalações. O projeto apresentado pelo Rio Sport Plaza descumpria a legislação e não assegurava a prática do automobilismo. Agora, diante das novas ações da prefeitura, não há nenhuma menção ou orçamento previsto para eventuais adequações e reparos aos danos que as construções dos módulos produziriam ao autódromo. Essa preocupação se justifica porque, para a prefeitura, o autódromo resume-se unicamente e exclusivamente a pista e não ao complexo como um todo, quando afirma que as eventuais obras não atingiriam a pista. E o autódromo, como fica?
3 – Ações para assegurar o automobilismo
Embora tecnicamente não seja possível a prefeitura afirmar que vai realizar as obras sem que haja qualquer interferência no circuito, um seguro que garanta a prática do automobilismo deve ser feito de modo a cumprir o que está exposto na legislação, que é preservar as atividades de automobilismo e motociclismo no Autódromo Internacional Nelson Piquet;
4 – Denúncias antecipadas ao Presidente da República
Conforme o presidente Paulo Scaglione demonstrou em correspondências ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2005, havia uma preocupação da CBA em relação a irregularidades no processo envolvendo o Pan 2007. As irregularidades apontadas pelo Ministério Público só fazem provar que as preocupações apontadas estavam embasadas em fatos e que, infelizmente, tornam-se realidade;
5 – Inverdades divulgadas pelo Consórcio Rio Sport Plaza
Contrariamente ao que tem sido divulgado pelo Consórcio Rio Sport Plaza, a CBA não está boicotando o projeto apresentado pelo grupo e assinado pela Tilke. Para atender a um pedido do Consórcio – e apesar de a FIA ter reiterado a autonomia e a competência da CBA para tratar do caso – a entidade nacional enviou o projeto para análise técnica da FIA. O trabalho que está sendo feito é técnico, sem dada prevista para a sua conclusão e, portanto, não está sujeito a pressões de ordem política e/ou problemas de prazo de quem quer que seja. A análise está sendo feita e encaminhada para a CBA tão logo esteja concluída. A FIA não vai alterar os seus procedimentos técnicos porque a prefeitura do Rio de Janeiro está enfrentando problemas de ordem estrutural, ambiental, legal e orçamentária às portas do Pan 2007;
6 – Confirmação da especulação imobiliária
Embora a prefeitura do Rio de Janeiro já tenha realizado nova licitação, denunciando a licitação anterior e, inclusive, aplicando multa de R$ 16 milhões ao Consórcio Rio Sport Plaza, o mesmo continua buscando condições para realizar a obra. Visivelmente existe a especulação imobiliária que seria usufruída pelos seus pares, uma vez que o mesmo está fazendo, em seus contatos, um verdadeiro loteamento imobiliário antecipado do autódromo e seu entorno. Isso ocorre buscando-se a união entre outras construtoras para o investimento, uma vez que o consórcio não conseguiu as verbas junto as estatais (tendo em vista a série de escândalos denunciados em 2005) e também não obteve financiamento no BNDES por falta de garantias de liquidez. Tal postura do consórcio, que não dispõe de verbas para honrar o comprometido na licitação, torna duvidosa e perigosa uma eventual reconsideração por parte da prefeitura, quanto a licitação já denunciada, pois claramente não existem verbas para garantir a execução plena do projeto;
7 – Ação continuada da CBA
Não são as manifestações do Rio Sport Plaza (no sentido de colocar em dúvida a postura ética da CBA) e da prefeitura do Rio (alterando a legislação e fazendo de conta que no interior do Autódromo Internacional Nelson Piquet só existe uma pista) que impedirão a CBA de continuar atuando em defesa do autódromo carioca, como faz há mais de três anos e ininterruptamente. E fica reiterada a determinação da CBA em questionar na Justiça qualquer obra no interior do autódromo que desrespeite a legislação e prejudique o automobilismo brasileiro, tendo já feito representação ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro, alertando dos procedimentos conturbados e ilegais que envolvem toda a movimentação relativa ao uso do espaço do autódromo.Como era de se esperar - e denunciados à própria Presidência da República bem antes do esperado - já temos o envolvimento da Secretaria Especial dos Jogos Pan-americanos em denúncias feitas pela Delegacia de Repressão a Ações Criminosas e Inquéritos Especiais por formação de quadrilha, ocultação de documentos e desrespeito a lei de licitação pública, conforme amplamente divulgado pela imprensa nacional.