O brasileiro Gastão Fráguas, hoje com 43 anos, entrou para a
história do kartismo internacional após uma notável temporada em 1995, quando
morava na Bélgica e conquistou o Campeonato Mundial na categoria Fórmula A com
um chassi Tony Kart e motores Italsistem.
Depois de seguir carreira no automobilismo, atualmente Fráguas
trabalha na gestão da carreira de pilotos, o que lhe permite compartilhar sua
experiência com seus clientes, levando-os também para competir no automobilismo
europeu.
Nesta sexta-feira (24) o site da CIK/FIA publicou uma
entrevista com Gastão Fráguas, um dos nossos três campeões mundiais de kart –
os outros dois foram Guga Ribas (1986) e Ruben Carrapatoso (1998).
FIA Karting – Gastão, como você começou sua carreira no
kartismo?
Fráguas – Bem, eu comecei tarde, com 15 anos, depois de descobrir o kart
graças a um primo. Eu tinha talento e tive sucesso em algumas corridas. Em 1993
tentei a sorte na Europa, no Mundial, competindo na Fórmula A. Eu era bastante
rápido, mas não tinha muita experiência. E acabei não chegando à Final por
conta de uma capotagem devido ao freio quebrado.
Em 1994 cruzei com Roland Maréchal. Eu havia ficado muito
impressionado com o desempenho dos chassis Tony Kart de sua equipe. Tive um bom
contato com ele e chegamos a um acordo para eu participar do Mundial em Córdoba,
na Argentina. E, mais uma vez, estive rápido e competitivo e terminei em 15º na
Final.
FIA Karting – Como foi a temporada de 1995?
Fráguas – Eu estava determinado a dar um grande passo à frente e aceitei a
oferta de Roland Maréchal de morar na Bélgica. Foi uma grande mudança de
cenário, eu estava longe da minha família e amigos, mas o resultado foi muito
positivo. Corri várias provas do Campeonato Belga e Italiano, sempre na Fórmula
A. Comecei bem o Europeu com um 2º lugar em Lonato e terminei o campeonato em 2º,
atrás do Giorgio Pantano, depois outro 2º lugar em Salbris. Enquanto isso, eu fui
3º na Copa do Mundo em Suzuka. Eu acreditava nas minhas chances para o Mundial em
Valence. Tudo correu bem e eu fui campeão, superando o Jenson Button. Realmente
foi uma temporada extraordinária, no topo do kartismo internacional, e não me
arrependo do sacrifício de me mudar para a Europa.
FIA Karting – O que aconteceu após a conquista do título
mundial?
Fráguas – Mudei para a Fórmula Super A no ano seguinte, mas quebrei a clavícula
e isso comprometeu minha temporada. Fiquei fora das pistas por dois meses e,
por isso, eu não estava pronto para o Mundial em Lonato. Em 1997 entrei para a
equipe de Terry Fullerton ao lado de Anthony Davidson. Foi interessante em
termos de desenvolvimento de equipamentos, mas complicado quando se fala em resultados.
Foi quando gradualmente me mudei para os monopostos.
FIA Karting – Como você resume sua experiência nos
autódromos?
Fráguas – Competi na Fórmula Renault em 98 e 99 e depois na Fórmula 3 no
Brasil em 2000 antes de “pendurar” o capacete em 2001. Percebi depois que
estava perdendo a gestão profissional da minha carreira, pois não consegui
tirar proveito dos resultados que tive no kart. As portas se abriram, mas talvez
eu não tenha feito as escolhas certas. Eu estava pensando em Jenson Button, que
terminou em segundo no Mundial de 95, atrás de mim. Ele tinha um plano de
carreira bem estruturado que lhe permitia continuar com sucesso no
automobilismo. Foi isso que me fez querer ir para o outro “lado da cerca” e
cuidar de jovens pilotos, para que eles possam desenvolver seu talento e criar
oportunidades. Por isso, iniciei minha atividade de gerenciamento em 2002.
FIA Karting – Com quem você trabalha ou trabalhou?
Fráguas – Antes mesmo de começar este trabalho, eu havia aconselhado meu
amigo Ruben Carrapatoso a correr na Europa e fiz a conexão com Roland Maréchal.
Tenho orgulho de ter contribuído para a vitória de um brasileiro em outro Mundial,
o de 1998. Cuidei de Caio Collet a partir de 2014 e o incentivei a vir correr
na Europa. Foi assim que ele conseguiu seu lugar na equipe oficial da Kosmic em
2015, liderada por Olivier Maréchal, para continuar a grande história que
comecei com seu pai. Caio imediatamente conquistou o 2º lugar em uma etapa do Europeu
CIK-FIA pela Júnior, em Portugal, terminando o campeonato em 6º. em Portimão,
terminando em 6º na classificação. Depois ele terminou o Mundial no top 3 como o
melhor estreante.
FIA Karting – Como é o kartismo no Brasil?
Fráguas – Na minha época, o kartismo brasileiro estava em um nível alto e pude
aprender o suficiente para ser competitivo assim que cheguei à Europa. Mas não
continuamos a progredir depois, por várias razões, enquanto a Europa progredia
constantemente. A diferença agora é muito maior e é difícil para um piloto
brasileiro chegar no kartismo europeu. Temos bons pilotos no Brasil, mas menos
do que antes, porque o padrão de competição é menor. Agora é essencial vir
competir na Europa para os grandes eventos internacionais, mesmo que não seja
barato.
Realizarmos um Mundial no Brasil é um evento muito importante para o nosso país e agradecemos a Felipe Massa por apoiar. O Mundial não acontecerá como planejado em 2020 por conta do COVID-19, mas contamos com este evento, agora agendado para 2021, para reviver as corridas no Brasil e dar um impulso ao kartismo. Espero que a situação atual não seja prejudicial para esta grande iniciativa.
Assista a conquista do título: