O piloto Gabriel Dias foi uma das grandes revelações do Campeonato Mundial de Kart, disputado no último final de semana, em Braga, Portugal. Sem nunca ter tido qualquer experiência anterior em competir no kartismo europeu, ele terminou o campeonato na 14a colocação, um resultado muito festejado pelo piloto e sua equipe e o mais expressivo de toda sua carreira.
Competir na Europa é sempre muito difícil para os pilotos brasileiros, desacostumados com uma pista bastante emborrachada, fator que dificulta muito o acerto do “chão” de seus equipamentos e, conseqüentemente, sua pilotagem. “Essa era minha principal preocupação, me adaptar à pista emborrachada. Porém, o que me atrapalhou mesmo foram diversos problemas na sexta-feira e os motores, que eram o ponto fraco de nossa equipe, sempre 4 décimos mais lentos, o que limitava minhas possibilidades”, explicou Gabriel Dias.
No primeiro dia de treinos oficiais, a sexta-feira, Gabriel Dias, que competiu pela equipe italiana MGM, sofreu com muitos problemas, que incluíam palhetas do carburador quebradas e dificuldade no acerto do novo chassi da Birel, este último agravado pelo pouco tempo de treino concedido aos pilotos.
Com a decisão de utilizar a versão antiga (julho 2005) do chassi Birel para a tomada de tempos, Gabriel Dias fez a escolha correta. Sanados os problemas, ele garantiu a 33a posição na tomada de tempos, deixando para trás nomes consagrados do kartismo mundial, como Sauro Cesetti e Manuel Renaudie. “Isto significava largar em 13o ou 14o em todas as provas classificatórias, logo atrás do tri-campeão mundial, Davide Foré. Passamos a trabalhar com a possibilidade de perder, no máximo, 50 pontos nas classificatórias e, com isto, conseguir me classificar para as finais”, contou Gabriel Dias, lembrando que os pilotos teriam que disputar quatro provas classificatórias e que apenas os 34 melhores classificados teriam direito a participar das provas finais.
Ao fim das três primeiras classificatórias, Gabriel Dias acumulava 30 pontos perdidos e apenas terminar a quarta prova seria a garantia de ter obtido a tão sonhada classificação. Aí veio o grande susto. “Logo na segunda curva após a largada, o Alessandro Manetti, que largava atrás de mim, perdeu o ponto de freada e me acertou por trás, arrancando o pára-choque traseiro de meu kart e tirando meia dúzia de pilotos da prova. Tentei voltar, mas como o trecho era sinuoso e inclinado, não foi possível. Naquela hora achei que o sonho da final tinha se acabado, mas como muita gente que largou atrás de mim também se envolveu em acidentes na primeira volta, mesmo abandonando, perdi apenas 24 pontos, o que me deixava com um total de 54 pontos perdidos, e a incerteza da classificação. Quando saiu o resultado, para minha alegria eu estava na final, largando em vigésimo quarto lugar. Se não tivesse batido, largaria em décimo quinto”, contou Gabriel, que com isto se incluía entre os 34 melhores pilotos deste Mundial.
A partir deste momento, começava uma outra expectativa, a de obter o melhor resultado possível, já que o primeiro e mais difícil objetivo havia sido atingido. “Ter obtido classificação para as finais, sem nunca ter corrido antes na Europa, já tinha sido uma vitória. Muitos pilotos experientes não conseguiram isto e eu estava lá”, disse Gabriel.
Na Pré-Final, que definiria o grid de largada para a grande Final, largando em 24o, Gabriel Dias tratou de manter sua posição na largada, mas numa disputa com Sauro Cesetti, acabou indo para a parte suja da pista, perdendo algumas posições e terminando a prova na 27a colocação. “Cometemos um erro ao guardar nosso segundo jogo de pneus para a final. Como eu estava largando atrás, precisava ter usado os pneus novos para ganhar posições e largar mais à frente na Final”, avaliou Gabriel.
Na Final, agora com pneus novos, Gabriel Dias conseguiu tirar o máximo possível do equipamento, chegando ao final alguns segundos atrás dos líderes, suficiente para receber a bandeirada em 14o lugar, melhor posição do Brasil na Fórmula A desde 2000. “Foi uma festa, especialmente por eu ser o mais novo dos 81 inscritos e nunca ter disputado nenhuma prova na Europa antes. Ano que vem, quero trabalhar para melhorar o que pode ser melhorado no esquema, e tentar andar melhor ainda. Quero aproveitar para agradecer ao meu preparador Luiz Moro, comigo todo o tempo, ao Zé Bolão e Marcelo da Faster, que transmitiram toda sua experiência e me ajudaram sempre, ao Waltinho Travaglini, que me possibilitou estar lá, ao Nilsinho que cuidou da logística, e ao Samuel Miranda da PTT Petróleo e Gás, que viabilizou tudo”, finalizou Gabriel Dias, o melhor piloto brasileiro nesta edição do Campeonato Mundial de Kart.
O Campeonato Mundial de Kart foi vencido pelo inglês Oliver Oakes, com seu conterrâneo, Jon Lancaster, em segundo, e o tri-campeão mundial, Davide Foré, em terceiro.