No último dia 12 divulgamos no Kart Gaúcho um comunicado da assessoria de imprensa da Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) que noticiava uma grande mudança nos chassis para a categoria Júnior Menor para a temporada 2010.
Tal notícia gerou grande descontentamento na comunidade, entre pilotos, pais e preparadores, realidade constatada mais uma vez através do texto que o jornalista Flávio Quick nos enviou. Confira:
Segundo o comunicado da assessoria de imprensa da CBA, a Júnior Menor passará a utilizar os chassis específicos para a categoria Cadete utilizando os mesmos motores desta temporada, ou seja, o Riomar, modelo MRA-1, com ciclo de dois tempos e 125cc.
De acordo com declaração do presidente da Comissão Nacional de Kart, Sr. Rubens Gatti, neste mesmo comunicado, a medida seria para reduzir o investimento dos pais no momento da mudança da categoria Cadete para a Júnior Menor.
Porém, a notícia não foi bem aceita entre os competidores, seus pais e nem mesmo fabricantes de chassis. Para eles esta mudança representaria, efetivamente, uma economia mínima de valores e um aumento muito considerável de risco e possíveis problemas até mesmo de segurança.
Marcelo Petriccione, proprietário da Birel Sudam, não entendeu o motivo da mudança. “Para quê mudar? Com qual objetivo? A Cadete é hoje a maior categoria de nossa modalidade e, a Júnior Menor, nesta temporada mesmo, tem recebido os pilotos promovidos e reunido também grandes grids. Há muitos anos o desenho do chassis da Cadete é padronizado pela própria CBA para todas as fábricas e, mais do que isso, foi concebido para um tipo específico de motorização. Para os pilotos um pouco mais altos estão dizendo que haverá um kit prolongador. Como eles imaginam que será este prolongamento? Como será vistoriada esta solda que pretendem fazer nos karts? Como será a padronização disto? Uma coisa eu posso garantir: os tubos dos chassis de Cadete são mais finos e frágeis. Com certeza, impulsionados por um motor forte como estes 125cc de dois tempos poderão trazer drásticos problemas, principalmente de segurança”, disse o empresário.
No último sábado, dia 22, durante a realização da Copa São Paulo Light, no Kartódromo Aldeia da Serra, o assunto que predominava nos boxes era exatamente este. Todos expressavam sua indignação com relação ao assunto.
“O Yurik terá de mudar de categoria no próximo ano e já pretendíamos comprar o equipamento para ele começar a treinar. Pelo tipo físico dele já estamos tendo de fazer a maior ginástica para que ele caiba no chassis Cadete até o fim desta temporada. Eu não teria confiança de colocar o meu filho para correr em um kart que já iria começar a temporada ‘remendado’. Sem contar que este chassis é muito mais frágil que o normal. Numa batida com um kart desses impulsionado por um motor de 125cc tenho certeza que poderia machucar muito mais. Tentamos fazer a adaptação esta semana aqui na equipe e, para se ter uma idéia, o escapamento não cabe. Teria de ser feita uma mudança na saída do motor. Sou completamente contra e realmente espero que o pessoal reveja esta idéia”, declarou o empresário e pai do piloto Yurik Carvalho. Yurik é o atual campeão Sul-Americano de Cadete e, na próxima temporada, por força da idade, será promovido à Júnior Menor.
Um outro empresário do ramo de chassis também deu sua opinião. “Temos uma grande experiência com este modelo de kart Cadete e, com certeza, não é um equipamento apropriado para esta mudança. Este chassis tem um ‘entre-eixos’ menor, foi concebido para utilizar um tipo de pneu muito menos aderente e motor mais fraco. A vibração ocasionada por um propulsor dois tempos de 125 cc aliada a velocidade que este kart poderá atingir poderá afetar a própria estrutura dos chassis. Trincas, fadiga de material e até mesmo quebra de soldas são as coisas mais comuns que poderiam aparecer. Isto sem contar que ao colocarmos pilotos mais altos num kart desses estaríamos mudando o centro gravitacional do equipamento. Assim, o conjunto ficaria mais exposto, facilitando inclusive capotagens”, finalizou o fabricante que pediu para não ser identificado.
Um dos pilotos que, pela nova regra teria de comprar um novo kart, porém, do modelo Cadete, é Matheus Chequer. O atleta subiu para a Júnior Menor nesta temporada e faz seu primeiro ano na classe. Entretanto, ele já disse ao pai que não volta ao kart menor. “O Matheus não quer nem ouvir a possibilidade de voltar a andar em um chassis de Cadete. Estamos fazendo todo um trabalho com ele, desde o começo do ano, visando a sua adaptação ao novo conjunto. Fizemos um investimento que já sabíamos seria necessário, compramos tudo novo, e ele vem crescendo a cada prova. Não vejo o menor sentido nesta mudança que os novos dirigentes estão propondo, principalmente por se tratar das duas maiores categorias do kartismo. Por que eles querem mexer exatamente nos ‘times que estão ganhando’? No nosso caso, se infelizmente isto continuar assim, teremos que levar o Matheus para a Júnior e, mais um ano, ao invés de brigarmos pelas vitórias, o que seria o normal, estaríamos sujeitos a um novo aprendizado”, destacou Alexandre Chequer, pai de Matheus, e um dos membros da ANPPA – Associação Nacional de Pais e Patrocinadores de Automobilismo.
Ainda nos boxes da Aldeia da Serra, Jaime Campos, chefe da equipe First Motorsports, do Rio de Janeiro, aumentou o coro. “O que eles estão querendo? Todos os pais e pilotos da Cadete já entram sabendo que, com 11 anos, vão precisar investir em um novo equipamento que será usado por, no mínimo, outras três temporadas. Os chassis eles poderão usar pelo resto da vida, uma vez que, da Júnior Menor até a Super Sênior não muda mais. E o motor, pelo menos três anos, sendo dois de Júnior Menor e mais um ano de Júnior, ou vice-versa. Todos já se programam para isto além dos próprios meninos já ficarem contando os dias para ganhar o ‘novo brinquedo’. Seria como no caso de um lutador de judô ou karatê saber que no final do ano mudaria de faixa e, no dia do exame final, descobrir que vai ter que ficar mais um longo período naquele mesmo estágio”, completou.
Rafael Cançado, diretor da RBC Preparações e responsável pelo fornecimento de motores nos principais campeonatos do país, comentou sobre a adaptação dos motores ao chassis. “Os motores utilizados hoje, neste tipo de chassis, tem 5,5 hp e 4 tempos de ciclo. Está se falando em inserir o MRA-1. Este equipamento tem 20 hp e 2 tempos. Por sua concepção este motor tem uma vibração muito maior e, nos tubos mais finos dos chassis Cadete, acredito que poderia efetivamente criar algum tipo de rompimento de soldas ou até mesmo fadiga de material. Isto teria de ser muito bem testado e em vários circuitos diferentes”, comentou o empresário mineiro.
Outro pai que se disse contra a esta mudança foi o do atual Campeão Brasileiro, Renato Júnior. “O Renatinho está contando os dias para começar a andar no kart maior. Ele já não cabe direito no chassis da Cadete e eu acho que esta tal adaptação não seria uma coisa padronizada, podendo, desta forma, criar vantagem ou desvantagem para um competidor. Sou a favor de deixar como está. Nos programamos desde o começo da temporada para a compra dos novos equipamentos (chassis e motor) e tenho certeza que, desta forma, meu filho estará competindo em algum equipamento realmente confiável e desenvolvido para um determinado tipo de propulsor”, finalizou Renato Silveira.
Enfim, o eco de tal alteração tem sido completamente negativo por todos os lugares onde é comentado. Assim, a comunidade do kartismo nacional espera um efetivo estudo por parte da CBA sobre esta alteração e, principalmente, a explicação de porque tentar uma alteração em uma das maiores categorias da atualidade.