O último domingo (20) foi triste para o automobilismo e
kartismo brasileiro, especialmente em São Paulo. Como noticiamos ontem no início da tarde, faleceu o locutor Ademir Capello, a “Voz de Interlagos”.
Vitimado por um infarto, Capello era também violonista nas
horas vagas, advogado de profissão e Procurador do Departamento de Justiça da
Federação de Automobilismo de São Paulo.
Ele faleceu aos 72 anos de idade e seu corpo foi cremado em
cerimônia restrita às 16 horas de ontem.
Ademir Capello, cujo falecimento consternou milhares de
pessoas que ouviram sua voz ao longo de mais de 25 anos em Interlagos, tanto no
autódromo como no kartódromo, mereceu algumas homenagens, como da categoria
Fórmula Inter e dos jornalistas Rodolpho Siqueira e Tiago Mendonça, que reproduzimos
abaixo.
Tiago Mendonça
Interlagos amanheceu em silêncio. Mudo. Sem voz.
Ademir Capelo, locutor de arena do autódromo e do kartódromo
desde que me conheço por gente, sofreu um infarto e deixou o esporte a motor órfão
de uma de suas vozes mais marcantes.
O Ademir – até́ onde sei – era advogado e fazia este
trabalho por paixão. Criou bordões memoráveis como ‘curva da balaaaaança’ e
‘olha os ponteeeeiros!’.
É impossível lembrar de uma corrida de kart dos anos 90, 00
e 10 sem ouvir a voz dele. Ele narrou os maiores pilotos que a gente viu surgir
nesse período.
A coisa mais divertida do Ademir é que, como ele narrava um
monte de categorias e centenas de pilotos no mesmo dia, ele usava a folhinha de
inscrição da FASP pra saber quem era quem, onde os nomes dos pilotos apareciam
completos. Então, na hora de narrar, ele lia aquilo e saíam hilários ‘olha aí
Alanmoreirahellmeeeister!’ vem chegando, vem pra cima do
‘Sérgiojimenezbarbooosaaa!’
Vai fazer muita falta, Ademir! Mas vá em paz. O
automobilismo e o kartismo te agradecem por tudo!
Fórmula Inter (Ronaldo Arrighi)
As provas paulistas oficiais de automobilismo e kartismo no complexo de
Interlagos perderam seu longevo e afável locutor de arena. Foram mais de quatro
décadas de dedicação, empenho e muito amor pelo esporte e pelo ofício.
Vitimado por um infarto fulminante em 20 de setembro de
2020, Capelo partiu desse plano deixando Eulália Munhoz Capelo (esposa), e uma
enorme legião de amigos e fãs conquistados nos seus 72 anos vividos.
Músico nas horas vagas (violonista), Capelo era advogado de
profissão e ainda, junto ao automobilismo paulista, desempenhava o cargo de
Procurador do Departamento de Justiça da FASP (Federação de Automobilismo de
São Paulo).
Mais reconhecido por sua voz do que por sua figura, esse
senhor de bigode e cabelos agrisalhados, estatura mediana e óculos de grau,
quase sempre portando microfone e prancheta em deslocamento pelos corredores,
escadarias, paddock ou na Torre de Direção de Provas e cronometragem do Autódromo
José Carlos Pace (SP), o seu habitat mais comum, não parecia tratar-se de
um septuagenário, tamanha sua vivacidade na função de contar as histórias do
automobilismo e kartismo enquanto essas estavam ocorrendo.
Acessível, amável e dono de uma educação exemplar, um
verdadeiro gentleman e que possuía um repertório de histórias do automobilismo
de fazer inveja a maioria dos aficionados pelo esporte, vivenciou muitas delas
e soube de outras tantas contadas pelos próprios protagonistas, uma
verdadeira enciclopédia do automobilismo paulista e seus personagens.
Enfim, inevitavelmente nós da Fórmula Inter sentiremos sua
falta, “seu” Ademir. Siga em paz amigo e obrigado por tudo...
Rodolpho Siqueira (Assessor de Imprensa da Stock Car)
Faleceu neste domingo (20) o locutor Ademir Capelo, pioneiro na função e
voz oficial de Interlagos desde os anos 70. Com forte atuação no kartismo, mas
também presente nos campeonatos regionais de São Paulo, Capelo iniciou a
carreira em 1968 como locutor de anúncios e ajudante de produção na extinta
Rádio Cometa, na equipe do então famoso locutor Ralf Tabajara – nome forte da
época na transmissão de eventos esportivos em rádio e TV.
A primeira experiência profissional de Ademir Capelo em
Interlagos foi acidental: na cobertura de uma corrida da Divisão 1, a rádio não
tinha carro disponível para levar a equipe de reportagem para o autódromo e
Capelo era o único que tinha um automóvel. Além de motorista naquelas primeiras
transmissões, acabou trabalhando como carregador de equipamento até que, certo
dia, o jornalista escalado pela rádio não pôde ir. E Ademir acabou fazendo sua
primeira reportagem.
Contratado para fazer locução de corridas de moto, em 1974
se ofereceu para narrar as provas do kartódromo para ganhar experiência e
velocidade nas descrições que fazia. Foi pioneiro na introdução de práticas
hoje corriqueiras nas corridas brasileiras, como conjugar a descrição das
provas para o público com orientações da direção de provas para pilotos e
equipes.
Daí nasceram bordões típicos de Capelo, como “Box abertos!”
e a contagem regressiva para o início de prova: “Cinco minutos para a largada!”
– informações que não eram dadas pela locução até então.
O locutor oficial das provas de Interlagos era bem mais que
a voz das competições regionais: violonista nas horas vagas, advogado de
profissão, Ademir também atuava como Procurador do Departamento de Justiça da
Federação de Automobilismo de São Paulo. Extremamente afável e gentil, era uma
das personalidades mais admiradas pelos frequentadores assíduos de Interlagos.
Deixa a esposa Eulália e muitos amigos conquistados em 72 anos de vida.