Campeão Brasileiro em 1981, 1995, 1996, 2002, 2004, 2006 e 2009, o primeiro deles pela Júnior. Campeão da Copa Brasil em 2002, 2003, 2004, 2009 e 2012. São doze títulos nacionais, sem contar os inúmeros sucessos em campeonatos estaduais e regionais. Falamos do paulista Renato Russo, nascido em 19 de junho de 1967, hoje, portanto, com 45 anos, por sinal bem vividos.
Nesta entrevista conversamos com Renato Russo a respeito de sua carreira, de como ela iniciou e que rumos tomou, e também sobre seus alunos famosos. Falamos também sobre sua relação com os dirigentes, sobre a situação de nosso kartismo, sobre o dia de parar, sobre o Super Kart Brasil (do qual é um dos criadores), enfim, sobre muita coisa.
Leia a entrevista... e divirta-se.
Quando foi seu início no kartismo? O que lhe levou a praticar nosso esporte?
(Risos)... Foi em 1975, cursei a escolinha, que se chamava KallKart e que tinha como professor o mestre Maurizio Sandro Sala, o Salinha. Foi depois de assistir uma corrida no Kartódromo de Interlagos!
Conte um pouco da tua história no kartismo. Quem te apoiou nesta trajetória?
No inicio foi muito difícil, pois não existia categoria de base, então peguei uma ‘pedreira’ logo no inicio. Eu corria contra garotos de 14 anos, tinha apenas 8 e era totalmente cru. Houve uma época que meu apelido era "quintão" (risos), pois eu só chegava em quinto! Depois veio a primeira vitória e o primeiro título brasileiro, em 1981, e fechei um patrocínio com o extinto Banco Econômico, que me levou para dois mundiais, na Itália e Alemanha. Cheguei a receber convite para ser piloto de fábrica, mas acabei voltando para o Brasil. Se arrependimento matasse....
A experiência adquirida lhe permitiu ser professor de vários pilotos. Quais os mais expressivos nomes que passaram por suas mãos? Quem deu certo?
Comecei a experiência de coach com 13 anos e de cara peguei o Rubens Barrichello, que já mostrava que teria um futuro brilhante. Ele escutava o que era pedido e fazia na pista. Logo depois venho o Tony Kanaan, que é outra fera no kart e não demorou muito para me encher de orgulho. Passaram muitos pilotos por mim: Carlos Iaconelli, Rafael Suzuki, Bia Figueiredo (que foi fantástica no kart), Gastão Fráguas (que depois seria campeão mundial), Beto Gresse.
Quais objetivos passaram a ser traçados a partir do momento em que o kartismo deu certo? Eles foram atingidos?
Não. Infelizmente é um esporte caro, amador e sem respaldo da mídia televisiva, o que dificulta muito a busca de patrocínios! Quando você sai do kart e migra para os carros – turismo ou monoposto – se torna outro mundo em termos financeiros. Você traça um plano que nunca imagina que pode dar errado de uma hora para outra! No meu caso estava tudo bem encaminhado, eu tinha acabado de ser Vice-campeão Brasileiro de Fórmula Ford, categoria de maior sucesso no Brasil, e tinha tomado meu rumo para Fórmula 3 Sul-Americana, com patrocínio total fechado. Ganhei a primeira etapa com um monoposto argentino, um Berta, com motor Renault. E no dia seguinte a triste notícia de que havia perdido a etapa e mais o patrocínio. Por causa do plano Collor meu patrocinador perdera tudo! A única solução naquele momento era voltar ao kart, pois eu era muito respeitado, entrando na equipe do Mário Sergio e fazendo a função de coach e pilotando ao mesmo tempo! De lá pra cá, não larguei mais o kart. Estou até hoje e faço tudo com muito prazer, profissionalismo e, principalmente, com muita dedicação ao esporte pelo qual sou apaixonado!
Em uma recente edição das 500 Milhas Rubens Barrichello lhe homenageou, lhe convidando para correr no time dele e ainda usou um capacete com a sua pintura. Como foi isso? Que sensações essa homenagem rendeu?
Acho que ele fez pela amizade e carinho que tem por mim. O Rubinho é um cara muito autêntico, muito família, e já foram duas homenagens. Para quem ainda esta na ativa e bem vivo, eu só posso ter muito orgulho de ser homenageado ainda em vida. Houve outra homenagem de uma categoria no kart, que se chamou Troféu Renato Russo na Granja Viana. Fiquei muito feliz também. Tenho aquele capacete guardado até hoje (risos).
Como está o kartismo brasileiro atualmente em sua opinião? Há como crescer? O que deve ser feito para melhorar? Como comparar nosso kartismo com o kartismo europeu?
Acho que tivemos muitas mudanças no esporte em termos de homologações, o que acaba gerando custos para pilotos e pais de pilotos. Sei que temos que mudar para melhorar, mas foram duas homologações em sequência, chassis e depois motores! Tudo isso só faz crescer nacionalmente, mas tem que ser com os pés no chão! Devemos manter campeonatos que já dão certo e não inventar outros que só encarecem e dificultam a escolha dos pilotos. Temos que manter as pistas boas e não fazer naquelas que não tem condições adequadas ao esporte por vontades políticas. Deveríamos ter pelo menos uma ajuda de custo para transporte quando fossem corridas nacionais muito longe do centro, descontos em hotéis, aviões, locadoras de carros e sem cobrança de taxas de credenciais, água do motorhome, taxas de caminhões, loja. E Comissários Desportivos mais preparados para saber lidar com eventuais toques, quem sabe com a ajuda de ex-pilotos!
Porque nasceu o Super Kart Brasil? O que deveria ser “tirado” dele para melhorar o kartismo brasileiro? E no que o SKB precisa melhorar?
Nasceu exatamente da necessidade de termos um campeonato com disputas de alto nível, com pistas boas, prêmios, e pilotos a fim de melhorar sua tocada e quem sabe sair do país preparado para bater de frente com os europeus! O SKB tem como mentalidade melhorar o kartismo nacional no geral, com preparadores satisfeitos, donos de equipe e, principalmente, pilotos e pais de pilotos contentes em correr num campeonato com formato estilo brasileiro! Precisamos, sim, melhorar na parte de pessoal competente para algumas áreas extra-pista, como marketing, logística, patrocinadores, algo que ajudaria e muito nosso evento, patrocinadores fortes, com premiações importantes e significativas!
Qual é a “data marcada” para abandonar de vez o kartismo? E quando e se isso acontecer, qual seria o sentimento?
Putz (risos). Nem penso nisso ainda, mas se acontecer será naturalmente. Tenho uma enorme paixão pelo kart e sinto prazer de estar formando novos pilotos. Acho que ficarei uma semana dentro de casa, chorando e relembrando as vitorias,assistindo vídeos e vendo fotos do meu passado (risos).
Renato Russo, o maior vencedor do kartismo nacional, é encarado com relevância quando conversa com a CBA ou CNK?
Na verdade o meu maior erro é não ser político (risos), não sei lidar com toda essa política de estados e Federações. Não tenho paciência para pessoas que uma hora falam uma coisa e depois, quando pressionados, voltam atrás em suas atitudes. Se você disse que é 10, porque agora fala que é 20??? Na verdade chamam outros pilotos de renome para conversar, acho que pensam que sou uma ameaça (risos). No fundo, o heptacampeão esta colhendo os frutos depois de velho (risos). Europa, Estados Unidos, Aldeia da Serra, Granja Viana, Interlagos, e por aí vai, sempre tentando passar para os pequenos e para os “seniores júnior” (risos) tudo o que aprendi. Eu estava nos Estados Unidos e cruzei com o Tony Kanaan. Ele me mostrou um vídeo em que aparecia com o filho no kart. E me disse: essa foi só para ver se ele vai querer continuar, porque depois será você que vai cuidar. Demais ouvir isso, né???
O que dizer aos novos pilotos e seus pais no que diz respeito a traçar seu futuro no automobilismo?
Que o kart será apenas uma escola onde o moleque vai aprender a respeitar seu adversário, achar milésimo de segundo em uma curva, saber disputar uma freada com seu concorrente, pois títulos no kart não ajudam em nada quando se chega ao monoposto, seja Brasil ou Europa. As equipes querem saber se você tem a verba para fazer a temporada inteira. A partir dai sim terá que mostrar resultados. É lógico que se ganhar tudo no kart é bom, mas não o suficiente para garantir uma temporada em monoposto ou turismo!!!