O paulista Sérgio Jimenez não tem mais nada a provar no kartismo e no automobilismo brasileiros de formação. Maior vencedor do principal campeonato do país – o Paulista, com o recorde absoluto de nove títulos – e pentacampeão brasileiro da modalidade, ele também foi campeão brasileiro de Fórmula Renault na única temporada que disputou, em 2002, o ano mais forte da história da categoria.
Seu grande problema, no entanto, não é exclusividade de sua condição atual: falta de recursos financeiros para seguir em frente. Mas, como diz Emerson Fittipaldi, não existe bom piloto sem estrela: justamente quando terminava sua temporada no kartismo, Jimenez conseguiu vaga para disputar uma seletiva patrocinada pela Repsol na Espanha, visando escolher um grupo de pilotos talentosos para o Campeonato Espanhol de Fórmula 3. E Jimenez, de 21 anos, conquistou o primeiro lugar, façanha que lhe garantiu o direito de iniciar o torneio com a equipe Racing Engineering.
A Racing Engineering pertence ao príncipe espanhol Alfonso de Orleans-Bourbon e é um reflexo do boom que vive o automobilismo no país, um momento semelhante à fase do nascimento da atual era de ouro do futebol da Espanha. Uma prova disso se deu na própria seletiva vencida por Jimenez: um de seus participantes era Nicolas Prost, filho do tetracampeão mundial de Fórmula 1 Alain Prost. O ex-grande rival de Ayrton Senna é um conhecido estrategista e colocou seu filho no automobilismo espanhol – preterindo escolas mais tradicionais, como a inglesa, a alemã e a francesa – justamente pelo momento vivido pelo esporte naquele país, com um grande afluxo de dinheiro, técnicos e pilotos estrangeiros.
A seletiva vencida por Jimenez aconteceu no circuito de Jerez de la Frontera, uma pista totalmente desconhecida pelo piloto brasileiro: “Eu já estava um ano e meio sem pilotar carros de corrida, somente karts. Para falar a verdade, fiquei preocupado, mas minha margem de erro tinha que ser zero. Aquele teste era tudo ou nada para a minha carreira”, conta Jimenez. O teste avaliou não apenas a velocidade (quesito no qual Jimenez foi absoluto), mas também a capacidade de transmitir aos engenheiros as reações do carro: “Por cinco vezes, eles me mandaram entrar no box e mexeram no acerto escondendo o que faziam. Eu tinha que voltar para a pista e, na menor quantidade de voltas possível, dizer qual a reação que a alteração provocava. Algumas mudanças eram muito sutis, mas acho que consegui acertar todas elas”, conta o piloto.
Jimenez, que na falta de oportunidade para seguir a carreira trabalhou nos últimos dois anos como o único piloto de kart profissional em atividade no Brasil, embarca nesta quarta-feira (15/02) para a Espanha. No próximo dia 20, na pista de Albacete, ele e os demais pilotos da Fórmula 3 Espanhola iniciarão uma série de testes coletivos visando a preparação para a temporada, que começa no dia oito de abril, em Valência. “Se tem uma coisa que aprendi nos dois anos que não pude dar seguimento à minha carreira nas corridas de automóvel foi justamente que as coisas só acontecem quando você tem vontade firme – quando tem uma espécie de fome de vencer e de se superar”, lembra Jimenez. “E eu vou para a Espanha com a mesma gana que manteve vivo o meu sonho de ser piloto profissional em uma categoria top. Se não der certo, não vai ser por falta de paixão e de vontade. E, claro, não preciso dizer que, novamente, é tudo ou nada para mim”.