No rastro da matéria que escrevemos na semana passada a respeito da qualidade, conhecimento, formação e poder de julgamento dos Comissários Desportivos nas mais diversas provas de kart espalhadas pelo Brasil, nos chega uma brilhante – porque não dizer – complementação ao que escrevemos anteriormente.
Saul Leite Jr. é um piloto gaúcho, de diversas vitórias e participações em provas estaduais e nacionais, e que no ano passado foi campeão sul-brasileiro de Fireball e vice-campeão brasileiro da Sênior B. E é ele quem escreve esta crônica, também sobre o assunto, agora questionando se foi justa ou não a desclassificação de Felipe Leite na final da Seletiva ao Mundial de Kart Indoor. Confira:
“Não é comum eu escrever alguma coisa sobre ocorridos nas pistas e fora delas, mas nesse caso não poderei deixar passar a oportunidade. Não para crucificar ou falar mal de um ou de outro e sim para tentar tornar um pouco melhor este esporte que tanto gostamos”.
“Aconteceu neste fim de semana no Velopark uma das mais bem organizadas corridas que já vi, com atenção a todos os detalhes, desde a montagem e equalização de karts novos, determinação de traçado novo, locução com comentarista, restaurante com bom atendimento e ótimas refeições... enfim, excelente trabalho de retaguarda, parabéns! A grande final foi disputada por apenas 15 pilotos, selecionados de um total de mais de 200 (eu diria ‘um time seleto’) e que chegaram ali por terem um ótimo nível de pilotagem e não por batidas, empurrões e queima de pista (havia punições a estes erros durante a seleção)”.
“Pois foi justamente nesta grande final e, mais ainda, na disputa pela primeira posição, que houve a desclassificação! Quem é do kart sabe que numa final o clima é tenso, os pilotos ficam nervosos, os ânimos ficam acirrados, a adrenalina é aumentada numa proporção inimaginável e o coração pulsa na sua maior RPM. Talvez seja isso mesmo que nós pilotos procuremos, essa sensação de estar no seu limite e ainda assim ser preciso numa freada, numa dividida, na manobra certa, isso é o kart, isso é competição, sem nunca esquecer suas regras e, principalmente, do caráter e do bom senso”.
“Experientes e entendedores de tudo isto, diretor de prova e comissários (e apenas eles), com seu conhecimento e humildade, calmos, centrados e de comum acordo, podem penalizar na dosagem certa alguma desmedida manobra proposital! Quem é do kart sabe o que significa uma desclassificação: é a punição mais severa que um diretor de prova pode dar ao piloto, é quando o piloto perde todo o direito de por em prática o conhecimento que ele traz, todo o envolvimento para aquela corrida, toda expectativa de amigos e familiares que estão assistindo a sua apresentação, todo o seu aprendizado, tudo... é um golpe fatal, SEM NENHUM DIREITO DE DEFESA, desferido por quem tem o poder de mensurar a manobra que levou a desclassificação”.
“Que responsabilidade esse ato terá frente às consequências que ele acarretará, se ocorrer um erro, uma precipitação....principalmente nos jovens pilotos, que é quem terão a incumbência da continuidade desse esporte, que tanto gostamos!”
“Quem é do kart sabe que a desclassificação ocorrida não teve lastro, não foi consensual entre a direção da prova, foi desmedida, não partiu de conhecedores do kart! Não teria sido mais prudente esperar até a prova terminar para analisar imagens que comprovassem ou não a alegada atitude antidesportiva? Não peço que mudem resultados, até porque não há como (teria se tivessem esperado pelo final da prova), mas escrevo aqui no intuito de que não se repitam mais essas punições desmedidas, essa falta de humildade para aceitar o consenso em todos os níveis. Que haja o entendimento por parte da organização no sentido de que o kart seja levado por quem é do kart, sem radicalismo e prepotência. Esta é uma categoria escola e não podemos perder bons alunos!”