Há quem diga que a paixão pelo automobilismo é uma tradição em muitas famílias, enquanto outros afirmam que se trata de genética, passando de pai para filho. Seja pela tradição ou pela genética, com o jovem piloto Victor Caliman não foi diferente: ele teve como inspiração seu próprio pai, Edison Caliman, para iniciar a carreira no kartismo.
Em 1996, Edison Caliman, ex-piloto de testes e de competições da Fiat, viu no kartismo uma boa oportunidade de voltar a competir depois de 10 anos longe do automobilismo. Edison conhecia a importância do kart que, na época, despontava como esporte de base no Brasil. As condições da economia do país ajudaram na criação de uma equipe de ponta, com equipamentos importados e bem estruturada. "Tínhamos o luxo de contar até com um cronometrista", brinca Edison. O cronometrista em questão era seu próprio filho, Victor, que, com apenas 10 anos, era elogiado pelo trabalho quando comparava os tempos do seu pai com a lista de referência dos organizadores e atingia ótimos níveis de igualdade nos valores.
No ano seguinte Edison disputaria o Campeonato Campineiro de Kart, e a equipe começava a ser cobrada pelo profissionalismo. A participação na prova envolvia altos custos, portanto, a exigência de um bom trabalho tornava-se uma obrigação para cada membro da equipe. Victor cumpria seu dever como cronometrista e já começava a auxiliar na revisão do kart junto com os mecânicos, para reduzir custos. Aos poucos, o interesse pelo kartismo começava a aparecer em Victor que, como torcedor número 1 do pai, estava sempre presente, segurando o troféu na hora de tirar as fotos oficiais da equipe, a Sulfiat.
A vontade de pilotar
Com o tempo, a tarefa da cronometragem já não era o bastante para Victor, que soltava indiretas do tipo "ainda vou pilotar esse brinquedo". A insistência do garoto transformou-se em determinação e, aos 11 anos, Victor Caliman começava suas aulas na escolinha de kart, no Kartódromo da Granja Vianna.
Mostrando que o sangue de piloto realmente corria em suas veias, Victor terminou a escolinha em primeiro lugar entre os alunos, recebendo elogios dos instrutores - entre eles, Caio Travaglini, um Graduado A da época e um dos melhores pilotos do campeonato Paulista.
Responsabilidade e desistência
Com o curso concluído, Victor continuou trabalhando na equipe do pai e começou a fazer os primeiros testes na categoria Júnior Menor, obtendo ótimos resultados. Mas os custos para manter dois pilotos na equipe eram altos demais e, para que Victor pudesse seguir carreira no automobilismo, seu pai estava disposto a abandonar o kart na categoria Sênior, dando a oportunidade ao filho. Foi nesse momento que o jovem Caliman surpreendeu a todos, durante um treino livre, ao afirmar que não queria mais correr de kart.
Questionado sobre suas razões para deixar de correr, Victor era incisivo: "não quero". Seu pai e toda a equipe respeitaram a decisão do jovem e jamais o forçaram a continuar. É possível que Victor tenha sentido o peso da responsabilidade e isso contribuiu para sua súbita perda de interesse e desistência da carreira de piloto.
Edison Caliman disputou mais um ano de kart e, em 1999, abandonou definitivamente a carreira e as competições. Ao que tudo indicava, o legado dos Caliman no automobilismo terminava antes da virada do milênio e não teria continuidade.
Quero dar umas voltas
O tempo passou e, em 2003, Edison voltou a fazer alguns treinos de kart, apenas por hobby. No ambiente descontraído, vendo o pai correr na pista, Victor voltaria a surpreender a equipe ao fazer um pedido singular, dizendo que gostaria de dar umas voltas com o kart. "Quando escutei aquilo, fiquei admirado, bem como todo mundo na equipe", lembra Edison, "então ofereci meu kart para ele, só para ver se o garoto ainda lembrava como se corria". Apesar de não pilotar há anos, Victor mostrou que ainda possuía a motivação e técnica de um bom piloto. A vontade de voltar correr retornou com força total.
"Como tínhamos que treinar muito", continua Edison, "traçamos um plano e, ainda em 2003, fizemos as duas últimas etapas em um campeonato no Kartódromo Aldeia da Serra". Victor tinha 16 anos e o campeonato era apenas para Graduados A e B. Como não havia uma categoria menor, o jovem Caliman acabou competindo com pilotos mais velhos e experientes. Os resultados surpreenderam: Victor chegou em 8º entre vinte competidores. "Nada mal para um novato", comenta Edison.
O retorno
O ano de 2004 marcou o começo real da carreira de Victor Caliman. Além de ter que superar pilotos com mais de 6 anos de experiência, ele deveria superar a si mesmo, pois já havia desistido uma vez. Mas com muito treino e dedicação, os resultados começaram a aparecer. Em seu primeiro campeonato como piloto, Victor seguiu um ritmo muito bom e evoluiu constantemente.
Surgiram os primeiros comentários de que Victor tinha boas chances de integrar grandes equipes de kart. Na 6ª etapa do campeonato de 2004, Victor conquista sua primeira vitória, confirmando que estava realmente disposto a encarar os desafios de um piloto e competir com garra. Uma segunda vitória viria a reforçar o entusiasmo e, no resultado final, o jovem Caliman tornou-se o vice-campeão de 2004 no primeiro campeonato de que participou.
O empenho do jovem piloto para mostrar que estava de volta - e pra valer - mostrava seus frutos. Ele foi condecorado como "Piloto Revelação" na categoria Parilla Graduados e recebeu o convite para disputar o Campeonato Brasileiro de Kart de 2005 pela Marinhos Motors, uma das equipes de kart mais famosas de São Paulo.
Em 2005, no Campeonato Brasileiro,
Chegando 2006, o jovem Caliman estreou no campeonato Paulista Light, na categoria Sprinter B. Continuando o bom desempenho, Victor vence a primeira corrida e passa a ter o merecido reconhecimento como piloto. Aquele garoto que, por razões próprias, desistiu da carreira no automobilismo, agora era apenas uma lembrança na mente de Victor.
Mantendo uma regularidade no campeonato de 2006 e fazendo a melhor volta em várias provas, Victor vem provando que o talento e a paixão pela velocidade, juntamente com o apoio do pai e de toda a equipe, o ajudaram a superar muitos desafios. Atualmente, o jovem vem sendo sondado para se tornar um piloto de fábrica.
Por que o kart?
Iniciar a carreira no automobilismo com karts é o primeiro passo de qualquer piloto. O sonho de chegar à Fórmula 1 faz parte da evolução natural, e com Victor Caliman não é diferente. Ele escolheu o kart como a base para sua carreira, mas tem ambições altas no automobilismo.
Porém, para atingir esse objetivo, é necessário muito trabalho e dedicação. Acima disso, o apoio da família e o incentivo feito a quem está começando são fundamentais para que o piloto desenvolva seu potencial nas pistas.
Edison jamais pressionou o filho para correr, não interferiu na decisão do garoto quando ele decidiu largar o kart e ofereceu apoio e incentivo quando Victor resolveu retornar ao automobilismo."Ao relembrar minha história, sinto muito orgulho do meu pai, com quem estive envolvido no kart desde os 10 anos", diz Victor. "Ele me deu o apoio inicial e sua participação na minha vida foi fundamental para que hoje eu seja reconhecido no kartismo paulista", comenta emocionado o jovem piloto.
As portas do sucesso estão se abrindo para Victor, mas ele não se deixa influenciar e mantém sempre a humildade como característica principal, reconhecendo a importância dos incentivos, apoios e patrocínios que conquistou. Ele sabe que precisará se desenvolver cada vez mais para evoluir a carreira, mas está confiante no futuro. "Só peço a Deus que me dê forças para continuar correndo e me ajude a conseguir novos parceiros, pois conheço bem os sacrifícios e desafios que tanto eu quanto meu pai enfrentamos para chegar até aqui".